24 setembro 2002

O site em que colaboro, ExpressOpinião, em sua terceira edição, vem trazendo um amontoado de artigos, quase todos referentes ao 11 de setembro. Uma resenha a respeito do Cidade de Deus vale uma conferida.

A IMAGEM PERSUASIVA

Trecho do artigo de Hélio Sussekind do site no mínimo



No caso de Lula, o trabalho de “construção” de imagem foi bem mais sofisticado, independentemente do resultado final. Impressiona como a agenda do candidato do PT foi cientificamente elaborada. Ele visitou, a menos de dois meses do pleito, Fiesp, Bovespa, Febraban, Embaixada dos Estados Unidos, Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ruralistas) e militares. A autocrítica é tema constante, sempre com viés de baixa para o radicalismo. A direção do candidato do PT rumo ao Planalto é da esquerda para o centro, da esquerda para o centro, da esquerda para o centro. Lula chegou a afirmar que não estaria preparado para governar o país em 1989, o que exime de culpa e convida a rever posição quem votou contra ele há 13 anos. O vice escolhido é tão suave quanto o tecido das toalhas fabricadas por sua companhia. Alencar é um grande empresário, o que acentua ainda mais o viés de baixa. O ápice do perfil light foi a marca recém-construída “Lulinha paz e amor”, que os jornais anunciam antecipar a fabricação de bonecos do candidato do PT. Os bichinhos da Parmalat foram uma febre, anos atrás. Talvez na próxima eleição as crianças tenham oportunidade de portar bonecos dos candidatos presidenciais.



Não é de hoje que se trata candidatos como produtos e se vendem imagens mais do que propostas. Trouxe-se, neste ano de eleições, no entanto, isto à tona com mais intensidade, porque, realmente, a radicalização do intuito publicitário tem sido grandiloqüente e salta ao olhos tamanha a sua importância na construção da figura dos candidatos, principalmente, é lógico, de Luis Inácio Lula da Silva. Totalmente diverso do sindicalista proletário suado, de camisa arremangada e barba desgrenhada, das eleições de 1989, Lula construiu, através do trabalho de Duda Mendonça, uma imagem que possibilite agradar às camadas sociais e aos grupos que o temiam, numa versão extremamente soft de petista. É o poder da publicidade mais uma vez interferindo e, para os menos desavisados, público com menor formação intelectual, na realidade, alvo favorito na campanha, acaba sendo uma manipulação açoitante, em que não se difere um candidato e, ao invés de propostas e considerações reais a respeito da imagem do partido, mostra-se um Lula comparado a um copinho de iogurte da moda.

A PROFUSÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Se temos abundância demasiada de informação, se diversos são os meios de se chegar a ela, se é numerosa a quantidade de redes televisivas, os grupos jornalísticos, os sites de notícias, como discernir, hoje, o que é verdade, do que pertence à interesses de certos grupos interessados em que um tipo de informação seja dada? A verdade estaria na realidade do corpo virtual que vejo morrer na tela ou na materialidade das lágrimas que esta visão provoca em mim? Descontada, ainda, a emoção quase incontrolável que uma situação pode criar sobre o boneco que a assiste, por meio dos meios a que têm acesso, existe ainda a informação que, dadas muitas vezes, e, ainda que inverídica, se torna real sob o desejo dos grupos que querem que assim ela seja encarada.

Afinal, se sobre um acontecimento, a imprensa, a rádio e a televisão dizem que alguma coisa é verdadeira, será estabelecido que aquilo é verdadeiro. Mesmo que seja falso. Porque, apartir de então, é verdade o que o conjunto da mídia credita como tal.

Como o único meio de que dispõe o cidadão que não está inserido no contexto temporal e local em que um fato está acontecendo, de verificar a veracidade de uma informação, é confrontar os discursos dos diferentes meios de comunicação. Então, se todos afirmam a mesma coisa, não resta mais do que admitir este discurso único como verdadeiro. Esta estabelecida uma linha tênue entre subjetividade transformada em objetividade.

SITE HILÁRIO DA SEMANA


Hoje Você Encontrou a Maior
Oportunidade Financeira
da Sua Vida!

A Partir de Hoje,
Você Está a Caminho da
Sua Independência Financeira
Definitiva!


19 setembro 2002

Paulo Roberto Pires, em sua coluna do site no mínimo, faz uma crítica bem interessante ao livro de Clarah Averbuck, bem mais equilibrada e com maior embasamento do que as que li até agora, de críticos que parecem que nem sequer abriram o livro da autora, simplesmente comparando-a com uma cópia híbrida mal lavada de Bukowski e Fante. O jornalista acaba, ainda, por fazer uma consideração bem interessante dos blogueiros[ê palavrinha fudida esta!]:


Seria ingênuo, mas muito ingênuo mesmo, garantir que no registro a quente de fatos, pensamentos e idéias dos blogs esteja uma “vida real”. Não duvido – e nem é esse o caso – que fatos e personagens ali retratados, com nomes certos e locais precisos tenham realmente se dado daquele jeito com aquelas pessoas. Mas a própria iniciativa de buscar um computador, organizar de alguma forma a memória e escrever já mostra que aquele pedaço de vida ali está encenado. Ana Cristina Cesar brincava admiravelmente com estes limites em seus poemas-diários ou poemas-correspondência. Revelava intimidades, escrevia a Mary e Gil (na época só os amigos próximos sabiam que estes eram e não eram Heloísa Buarque de Hollanda e Armando Freitas Filho) e, assim, bagunçava as relações entre experiência e criação estética.


ainda bem que todos sabem que eu sou um mentiroso.

18 setembro 2002

De telefonemas e agonias

Se fosse tudo uma questão de se manter a mente aberta, a espinha ereta e o coração tranqüilo, talvez eu não ficasse tão atucanado cada vez que ela demorasse um dia inteiro para me ligar. Ainda que houvesse mil pedidos de desculpas, mil motivos extremamente justificáveis para o seu telefonema ter demorado a vir, eu já havia sofrido por antemão. E é como diz o velho ditado: a flecha lançada, a palavra falada e o leite derramado são irreversíveis: o estrago já estava feito.


Muito embora, eu também pudesse me dar conta, conscientemente, desta minha característica extremamente insegura e ciumenta, e já me mantivesse mais ou menos calmo, sem me desesperar ou aparentar aquele nervosismo pulsante que, então, me caracteriza cada vez que ocorre esta demora. Mas o que fazer? Dizem que só se vive verdadeiramente quando nos apaixonamos de verdade, e, se apaixonar-se é doar-se totalmente, doar-se é não ter medo de ter ciúme, ou vergonha disto, nem ter vergonha de achar que seu dia não foi suficientemente feliz por que o telefone dela não veio. Tudo bem, sei que nossa felicidade não deve estar nas mãos de uma pessoa, e que não devemos achar que somente esta pessoa poderá nos fazer feliz, mas a verdade também é que é inegável que sempre há alguma pessoa que dá uma grande contribuição para a nossa felicidade.


Esta pessoa (ou estas, no caso dos insaciáveis ou adeptos do ménage à troir, à quatre, à cinq...) normalmente se diversifica de acordo com nossa idade, afinal, com algumas variáveis, durante toda a infância, e começo de nossa adolescência, nossos pais são perfeitos e nos bastam, e nada mais do que seu amor é preciso para nos fazer feliz. Vide aqueles que não são filhos únicos, a disputa constante do carinho e atenção de nossos progenitores sempre ocupou grande parte de nossas manhãs, tardes e noites, em um espaço entre o lanche com toddy (“porque você o serviu primeiro?”) e o jogo de videogame. E o beijo da mãe que não vinha, ou presente do pai para o irmão ocuparam nossas imberbes noites de tristeza, na certeza de que não éramos mais amados ou que éramos menos que o nosso irmão.


No decorrer da vida, essa necessidade do amor de outrem continua se mantendo e só muda de personagem, quase sempre acabando por se depositar naquele ente que – no momento, ou eternamente – escolhemos para apossar-se de nosso coração. E quem escolhe? Eu nunca escolhi. A coisa sempre fluiu ao natural, de uma maneira ou outra, e, quando vimos, já nos tornamos escravos sentimentais daquela guria – ou daquele guri – com quem trocamos beijos, abraços e outras intimidades, conforme o tempo passa, e conforme mais desta pessoa nos sentimos. E, se julgamos esta pessoa fiel depositária de nossos sentimentos, também nos julgamos no direito de sentirmo-nos protegidos, assegurados e seguros, e, se para sentir isto, é o seu telefonema que nos completará, nada mais justo do que esperar ansiosos por ele. Mas ele não vem. E quem foi que disse que viver é fácil?


De imoralidades e pornografias


Quando um colega meu me disse que achava meus contos meio indecentes, ou algo depravados, a princípio eu meio que me ofendi, mas em seguida até que relevei – é verdade que existe a agravante dele ser evangélico (e nenhum preconceito a isto, é lógico), e eu mesmo sou católico, até pouco tempo participante de grupos de jovens, e isto acabou fazendo com que eu acabasse não dando extrema importância aos seus comentários, sabendo daquela busca eterna pela extrema moral que os caracteriza.

Mas, dito isto, devo me considerar imoral e consciente desta realidade? Não. A verdade, é que, realmente, muitas vezes me debato, até, a respeito disto. Se meus contos são imorais, disseminadores de extensa putaria, propagadores de uma promiscuidade literária barata, incentivador de orgias mil e descrevem surubas intermináveis. No entanto, fazendo-se uma análise da “minha obra”, e observando os meandros e características da mesma, a sexualidade que ali aparece para mim é extremamente natural, e não fruto de uma procura por ela.

Os momentos, as intenções, os pensamentos, não propagam aquele erotismo de boteco, aquela descrição acintosamente vulgar e feita para excitar. Se muitas vezes excitam, fazem parte de um processo conseqüente que rege os desejos e fantasias de cada leitor, ou o personagem, como espelho destes. Sim, espelho. Porque a procura é por uma literatura, na maioria das vezes, honesta, representativa das minhas vivências, dos meus pensamentos, e dos pensamentos dos que me cercam. Embora, nem sempre seja assim. Lógico que há a ficção pela ficção, o fato inusitado, o nada comigo, senão não seria literatura. Se há imoralidade no ser humano ser sexual, ter desejos e devaneios, fantasias e elucubrações íntimas, então sim, há imoralidade nos meus contos e em outras categorias de textos de ficção que produzo. Se não, até que se prove o contrário, sou um mero coadjuvante neste circo de cinismo que nos envolve, onde vemos nações como os Estados Unidos, por exemplo, que, com certeza, é o maior exportador de pornografia do mundo, ter atitudes extremamente hipócritas como aquele julgamento de Larry Flint, dono da mundialmente famosa revista “Hustler”, e que pudemos ver no filme “O Povo Contra Larry Flint”.

É lógico que a nudez de açougue, a baixaria de borracharia, o sexo mal descrito, a sacanagem pela sacanagem, e, pior, como subterfúgio para uma parca qualidade literária, isto é chocante, se caracteriza como pornografia, e deve estar relegado ao seu nível, que, reconheçamos todos, é abaixo do aceitável para convivência social. Agora, nos depararmos com nossos anseios, com nossos desejos, com nossas vivências, e, de forma não propagandeada, mas naturalmente discutida, utilizar desta como forma de arte e expressão do que somos e do que queremos, acho que isto está longe de ser imoral.

16 setembro 2002

PARTICIPAÇÃO


O site ExpressOpinião publicou um artigo meu recentemente. Para falar a verdade, é o mesmo que saiu no Argumento da semana passada. Se você não leu no Argumento, então leia aqui.

Chico Anysio se diz discriminado por seu trabalho como escritor [assim como seu trabalho como músico, artista plástico, poeta...]: "O fato de eu atuar na televisão faz com que se cometa a barbaridade de editarem um livro, "Cem Melhores Contos Brasileiros" (Ed. Objetiva), e não incluírem nenhum meu. Minhas músicas são quase renegadas, minha pintura é desqualificada, meus comentários de futebol são considerados idiotas, minhas poesias nem chegam a ser lidas...", reclama.

EU NÃO POSSO ACREDITAR NISTO!


Atenção: inaugurando a categoria acredite se puder o autor deste brógue amigo se inscreveu e está concorrendo para o PRÊMIO IBEST!!! Como chinelagem pouca é bobagem, vamos subverter os padrões culturais desta tendente onda estigmatizada de sites impressionantes e impressionáveis que sempre papam os prêmios. Portanto, pra barbaridade não ter limites, tomemos as rédeas da contracultura e votemos neste pobre que vos escreve constantemente e com tanto carinho no coração. Vamos votar nesta porra para melhor site na categoria pessoal entretenimento. No entanto, se a pergunta for: "mas, alessandro, se você quer subverter o contexto cultural em que os meios midiáticos se encontram, como você pode concorrer para esta premiação que perpetua os princípios impostos pela situação vigente?", a resposta será: "sei lá, porra, vota aí!"

12 setembro 2002

DA SÉRIE "ESTA PROPAGANDA É MASSA"



Sim, eu não poderia deixar de me juntar à nação mundial e, em uníssimo, fazer uma ode We Are the World por este fato aterrador que, ontem, contemplou um ano... hshs. Ah, é foda. Abaixo, minha opinião à respeito:

Se é para sermos ingênuos, que sejamos agora e sempre

Tudo rende-se à um roldão de mesmice na terra de Tio Sam. Mesmo passado um ano do atentado que ceifou as torres do World Trade Center, quando, após o incidente, toda a massa sensacionalista da imprensa se pôs a profetizar a mudança inevitável nos rumos mundiais e, principalmente, de uma modificação de conduta da potência hegemônica grandiloqüente, tudo, após assentada a poeira (real e metaforicamente falando) caminhou para o estabelecimento do mesmo plano já conhecido. Juremir Machado da Silva, em seu texto “O 11 de setembro também não aconteceu”, publicada no jornal Correio do Povo, de 08 de setembro, nos deixa claro que, se a intenção final dos terroristas – descontada a barbárie dos métodos utilizados para tal – era assustar as autoridades norte-americanas, ou comover aquela nação que continua tapando os ouvidos aos clamores de todas as nações que oprimem, ainda que grandioso, seu ato foi em vão.

Ao nos depararmos com a forma como, um ano após, tudo continua igual na nação americana, no pior sentido do fato, vemos o quanto, por vezes, a imprensa é precipitada em anunciar divisores de água para eventos que, não necessariamente, mudarão de maneira aterradora a história da humanidade.

Afirmando-nos que o 11 de setembro de 2001 não aconteceu, Juremir nos remete à teoria de Jean Baudrillard, segundo a qual um acontecimento, para ser considerado como tal, precisa alterar uma situação ou corresponder a uma expectativa.

Quando vemos que, fatos dados pela mídia como certos (de que a política externa dos Estados Unidos mudaria radicalmente, e levaria em consideração algumas evidências do terceiro mundo) simplesmente não se alteraram, ou seja, a situação é absolutamente estática, é que vemos quão indiferente à percepção geral americana o dia 11 de setembro demonstrou ser para uma menor arrogância em relação ao “resto do mundo”.

Assim como, após a barbárie nazista, disse-se que um limite havia sido ultrapassado, o 11 de setembro parecia ter-nos infringido, ainda que inconscientemente, uma idéia de que as coisas seriam vistas sob uma nova ótica a partir de então. No entanto, Jean Baudrillard tinha razão: ao publicar seu livro “A Guerra do Golfo Não Aconteceu”, só demonstrou o quanto fatos que poderiam se considerar importantes para uma nova visão de mundo renderam-se ao normalismo de guerras vãs e acontecimentos que já não trazem consigo nenhum esboço de grandiosidade aterradora, pois nos “adaptamos” constantemente a eles.

Os americanos se adaptaram a algo que tocou-lhe no âmago. Se não foram menos de 3 mil mortos que levaram Bush e seus asseclas a tratar o resto do mundo com menos superioridade, e tudo isto só serviu para mostrar-nos, mais uma vez, a capacidade norte-americana de “emoção espetacular”, que levanta torres de neon em memória de um mês do ocorrido, porque nós, longe do acontecido, vamos nos render a achar que isto poderia ser um marco de uma era de mudança por parte dos “donos do mundo”? Ingenuidade pouca é bobagem.


NOITE DO CÃO

cada vez mais eu sinto que eu tenho UM ALTO TEOR DE PROBABILIDADE de ser extremamente chinelo. me identifico e me comporto como tal, e acho profundamente sincera a prática de tais atos de CHINELAGEM. na noite de ontem, como prova disto, encontrava-me desprevenido financeiramente, a perambular pela BORGES DE MEDEIROS com SALGADO FILHO, quando aquela fome alucinada se fez presente. como depois das onze da noite, os caixas eletrônicos do BANRISUL, simplesmente SE NEGAM a lhe fornecer aquele sempre necessário FAZ-ME RIR [por questões de segurança, segundo seus relações públicas se fizeram informar], fui ao encontro de um caixa 24 horas que... estava fechado. sim, à meia noite e alguma coisa, um caixa 24 horas se encontrava trancado, se negando, fundamentalmente, a me fornecer meus suados vinténs. foi aí que o espírito chinelo se fez presente, fazendo-me mágico ao conseguir transformar UM REAL E CINQÜENTA CENTAVOS em valor gastronômico, pois, ao encontrar nosso amigo CACHORREIRO na esquina das supra citadas avenidas, deparei-me com seu MENU e tudo o que tinha para me oferecer dentro das minhas modestas condições financeiras. e que maravilha não é a cozinha gastronômica do centro de porto alegre: por apenas CINQÜENTA CENTAVOS, você pode saborear um suculento CÃO C/ UMA SALSICHA. ["sim, mas você não tinha um real e cinqüenta?"]. lógico, porém nunca se sabe DO DIA DE AMANHÃ, logo, continuei contemplando o cardápio, que ainda tinha o CÃO C/ 02 SALSICHAS por SETENTA CENTAVOS [logo, vinte centavos a salsicha adicional!]. porém, por este processo inflacionário que todos temos conhecimento, o CÃO C/ 03 SALSICHAS, subiu impiedosamente para UM REAL! [adicionaram mais uma salsicha por 30 centavos! onde vamos parar?!] e nestas horas eu me pergunto: para que me serve um cachorro com três salsichas? antes que vossa senhoria me venha com respostas de baixo calão, justifico, tornando claro que minha fome não era tamanha, e, ademais NUNCA SE SABE DO DIA DE AMANHÃ, então, dei-me por satisfeito ao comprar o cão de 01 SALSICHA, com apenas uma moedinha. e, no dia seguinte, ainda consumi uma barra de CEREAL na facul, com o 01 REAL SOBRESSALENTE! e viva a magia financeira e gastronômica!

09 setembro 2002

TEXTO NOVO

Tem uma nova colaboração deste Alessandro aqui, já disponível no site do Argumento desta semana.
Belezinha.

06 setembro 2002

os gritinhos são de "ai, ai, ai" [som de gurias que dizem sim] e as desprevenidas deste insólito solo gaudério deixam seus guarda-chuvas incautos serem levados ao sabor do vento neste começo de noite fria e molhada. sou observador taciturno deste espetáculo de revoadas e de água salpicante sobre a epiderme. no más, já não há como se saber com que temperatura nos brindará o dia de amanhã e se camiseta ou blusa de lã é a vestimenta mais apropriada. enquanto o dia não vem, espero incessantemente, na vontade de me abrigar sob um edredon acolhedor e aconchegante. a vida é outra coisa, no entanto, ou sou eu mesmo que me obrigo a esta rotina diária de escrevinhador e dizáina dos pampas. deixe-me por aqui, por enquanto, a contemplar os saiotes rodopiantes e os cabelos revoltosos que permeiam todo este campus pucniano infernal.

05 setembro 2002

QUASE LITERATURA


Os grotos

Os homens sentavam-se durante horas intermináveis nos degraus da varanda, enquanto as mulheres, dentro das cadas de madeira tosca, cozinhavam alguma espécie de carne extremamente gordurosa, cuja fumaça subia deixando espessa camada de fuligem na parede já apodrecida. As crianças corriam em volta, fazendo uma algazarra dos diabos, e os olhares pesados e empapuzados e suorentos por sobre as pálpebras de suas mães, não esboçavam a menor censura. Quando a cerveja dos homens acabava, eles apenas ficavam a contemplar algum lugar distante, longe o bastante para não lhes animar a caminhar até lá, e não gritavam insanamente para dentro de casa para as mulheres trazerem mais um conjunto de seis latas de cerveja gelada ou uma garrafa long neck ou qualquer outro vasilhame que contivesse cerveja. Eles ficavam, apenas, mudos e contemplativos, porque sabiam que as mulheres estavam cozinhando somente algum tipo de carne gordurosa que iria compor o jantar, junto com os restos de arroz do domingo que havia passado, então os homens também não se davam ao trabalho de entrar e buscar eles próprios, talvez porque a algazarra das crianças os deixasse cansados em demasia, talvez porque apenas quisessem ficar ali, sentados, ou na realidade, nem fizessem questão de beber tanta cerveja assim, e apenas o fizessem por alguma espécie de convenção existente deste sempre e que deveria simplesmente perdurar para todo o sempre...

...
noite da puta merda

Camila não sabia ao certo porque se encontrava na estação rodoviária àquela hora da madrugada, esperando o ônibus para um lugar que não tinha muita certeza se estava realmente querendo ir. Foda-se, pensou Camila, antes de pedir uma água mineral para o ambulante que tartamudeava ali por perto, encostado na parede desde que ela se lembrava de estar ali. Lembrou-se de um colega da faculdade, que achava o ato de comprar água mineral uma das maiores demonstrações de poderio burguês. Na época ela achava mais ou menos isto, também, quando via as patrícias entrar aula adentro com suas garrafinhas de charrua sugadas em canudinhos plásticos. Se é para comprar uma bebida, compra refri, porra! Água tem no bebedouro, falava Fabrício para Camila, mas tão alto, que, invariavelmente as patrícias se viravam fazendo um sinal obsceno seguido sempre da mesma frase: Vai-te à merda, riponga! Fabrício era o riponga. Não queria lembrar de Fabrício àquela hora, Fabrício não tinha nada que ver com o motivo pelo qual estava ali. Fabrício era um passado tão distante quanto as aulas de Comunicação Comparada e aquelas garrafinhas plásticas de charrua. O ambulante lhe alcançou uma garrafa de charrua e disse que não tinha mais canudo. Melhor, pensou Camila, um detalhe apenas para me diferenciar das patrícias. Camila não tinha certeza de que horas eram quando o ônibus chegou no seu box, mas os pés doendo lhe trouxeram o arrependimento de ter calçado as alpargatas velhas do pai.

...

quase memória

Tu não sabias porque as outras crianças não te deixavam brincar com elas no pátio dos apartamentos. Tu eras meio estranha e um pouco gorda em comparação às outras gurias com suas tetinhas ouriçadas e seus calçõezinhos de lycra coladinho no rego, mas estes tu não podias usar – porque tu eras um pouco gorda e sabias que não ficaria algo muito bonito de se ver. No mais, tu tinhas quase certeza de que não gostaria de sentir aquele tecido gelado enfiadinho por entre as tuas coxinhas roliças, e achava melhor, então, usar aquela bermuda de algodão folgado que te deixava maior do que tu eras. Também, isto não tinha lá muita importância no resumo geral das coisas, porque tu acabas mesmo passando o dia olhando as crianças da janela do teu apartamento ao rés-do-chão, já que elas não te chamavam para participar do esconde-esconde, então, quase ninguém te via com aquela bermuda larga de algodão. Se te visse, tu já achavas que não tinha muito problema, porque há tempos já desistira da idéia de encontrar em si própria um pouco de graça, ou de parecer interessante de algum tipo de maneira estética. Eu acho que naquela época tu nem tinhas muita noção do conceito de estética. É, esquece, tu eras extremamente novinha pra época e, provavelmente, crianças novinhas e normais na concepção social da palavra, não se ligam muito em preciosismos vocabulares. Se bem que eu esqueci que, naquela época, tu eras meio estranha. Eu, por exemplo, não entendia porque tu gostavas de judiar com o gato do teu irmão menor. Não sei se tu tinhas raiva do bichano, de verdade, ou se usava o pobre para se vingar do fato das atenções terem se voltado todas para teu mano e, então, tu te achar completamente abandonada. Ninguém ligava que tu ficasse horas na frente da televisão assistindo aqueles filmes onde os homens sempre queriam estar por cima das mulheres, se esfregando que nem o guri daquele apartamento do lado do teu ficava se esfregando na tua vizinha Lurdes. Tu não sabias o que havia de interessante em ficar se esfregando. Tu não sabias muita coisa naquela época, para falar a verdade. Agora não sei se tu aprendeste um pouquinho mais. Também, eu não tenho nada que ver com isto.

SpamZINE

tá, o texto não é tãããão inédito, assim, mas, ademais [isto é possível?] tá lá: uma colaboração para o SpamZine deste tosco que vos escreve está à sua disposição para ser lida, devorada, destrinchada, avacalhada, revoada, cavalgada e tudo o mais. tudo bem, ficçãozinha sem pretensão, mas está lá, PORRA!!!
CRICA LÁ e dá uma olhadinha. No más, alguns minutos de leituras, uma vez que há outros textos bem interessantes, também.
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02 setembro 2002

uma malzibier

Os gurizinhos sujos brincam um pouco mais lá adiante, enquanto a corja aqui se refestela na porta do barraco esperando a cerveja quente que aquela botequeira safada não traz. Não temos muito o que fazer, então não fazemos. Coisas de que tipo? quando não se tem certeza do que se quer. Os guris empinam a pipa à maneira deles, mais ou menos acertada,não somos ninguém para tentar ensinar que puxando daquele jeito vai acabar enganchando na rede de alta tensão. Morrendo um é só mais um. Morrendo dois, a gente sabe o que é que é. E é o que for. Se for a cerveja preta eu não quero porque acho profundamente e irritantemente doce, e ademais, cerveja preta é pra mulher que quer ter leite. Eu não quero ter leite. Não me agrada leite saindo das tetas. Nunca entendi por que homem tem que ter teta. Uma vez no calor, saiu um caldinho, a tetinha estava meio ouriçada. Quando tou com tesão a teta fica assim, também. Não gosto que chupem a minha teta, porém. Se a mulher quer chupar alguma coisa, que chupe meu caralho e deixe minhas tetas em paz. Chamar aquela mulher de botequeira me lembra das boqueteiras. Pra que falar de sacanagem, quando tudo o que se espera é a merda da cerveja quente, foda que é a única que se tem por aqui, e que aquela safada demora pra trazer.