10 janeiro 2003

Ultimamente - eu não sei se é bem ultimamente ou se é algo que passou, já, a fazer parte de minhas características - ando desacreditando certas convenções e cerimônias, além de achá-las um tanto risíveis e constrangedoras e terrivelmente falsas. Ontem, movido não sei bem porque fato, fui assistir a uma cerimônia de formatura. Da entrada com música triunfal aos cabelos alisados das moças loiras que, sei, têm cabelo encaracolado, até as oratórias que buscam traçar um retrato contemporâneo e verdadeiro do nosso tempo - utlizando para isto, palavras e frases que julgam chocantes -, enfim, tudo parece falso e me provoca uma repulsa que, por vezes me assusta, tamanho o nível de insensibilidade que, talvez, esteja se entranhando no meu ser. O ranço burguês, as convenções das toalhinhas azuladas nos ombros dos professores, as coroas ricas pintadas e de melenas escovadas, as diferenciações de tratamento que fazem com que professores sejam considerados "ilustríssimos" e funcionários homenageados sejam chamados de "estimados" [por não ter um curso de graduação a fazer frente a seu primeiro nome?] são resultados de uma sociedade que superestima a graduação acadêmica como um fato necessário para "tornar" alguém pessoa digna de consideração.

Engraçado que foi muito ao encontro de um artigo que tinha lido ontem, que está linkado no post abaixo, as batalhas ensandecidas travadas pelas gurias para se tornar quem, na realidade, não são. As toneladas de maquiagem adornando suas superfícies epidérmicas não naturalmente rubras e os artíficios mil na gana de pareceram mais interessantes do que verdadeiramente são - amparadas, claro, por outros recursos diversos que um boa quantidade de dinheiro e conhecimento de bons cirurgiões possibilita - é o resultado desta busca da aparência que impressione. E me impressiona. Me impressiona o nível de futilidade e gestinhos perdidos em algo que poderia primar pela simplicidade e praticidade e se deixar levar menos pelo deslumbramento e esnobismo.