10 março 2003

Pedro Doria faz uma interessante análise sobre a perda da privacidade em uma era em que o Google arma uma rede relacionando resultados das buscas mais insólitas possíveis. A procura pelo passado, de maneira investigativa, hoje, está mais fácil com as tecnologias que possibilitam ter acesso a centenas de informações de quem se quer, sabendo-se como fazê-lo. É uma constatação que, se vista com lentidão, pode, realmente, impressionar, causar alguma espécie de pânico, até. Mas é algo cada vez mais palpável nesta sociedade que se sedimenta sobre informações em bancos de dados, acúmulos de fatos relacionados às vidas que, mais cedo ou mais tarde, podem ser utilizados e acessados por governos e grandes corporações por diferentes necessidades. Desde atestar a "confiabilidade" de um candidato à emprego, até escarafunchar, por absoluta curiosidade, a vida daquele seu vizinho de hábitos meio estranhos e que lhe deve alguma coisa. Tudo parece convergir para esta direção, no entanto.


As redes de apoio à tal violação de privacidade são tentáculos que englobam não só ferramentas da internet, como os próprios programas de entretenimento midiático. Olhar, saber e ter informações sobre o outro virará hábito. Tudo está ao alcance. É só mais um produto de consumo: a informação sobre tudo e todos passa a ser quase que de obrigatoriedade. Privacidade se torna cada vez menos representativo, tanto para quem gostaria de ainda tê-la, como para quem faz de tudo para perdê-la, tanto em reality shows, como em blogs e assemelhados, profundamente auto-denunciantes. É preciso estar atento até mesmo sobre o que se escreve on-line, cuidando-se para que seu futuro selecionador em um possível emprego, não venha a digitar seu precioso nomezinho, entre aspas, para facilitar, naquele conhecido campo do Google.