28 março 2003

Sempre tive minhas dúvidas quanto à utilidade das manifestações públicas de protesto, de uma maneira geral. Agora, me apavora quando a coisa chegas às raias da imbecilidade quando se fazem protestos do tipo "a Coca-Cola é americana? Vamos protestar contra a guerra no pátio da engarrafadora Vonpar!". Com a presença, inclusive do deputado estadual Frei Sérgio Göergen (PT) e do presidente regional da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Quintino Severo, acharam que seria uma boa protestar contra quem, segundo eles, apóia a Guerra no Iraque. Esta proposta de boicote aos produtos americanos já parece algo a se pensar, e quem fala aqui não é, de maneira nenhuma, fã daquela nação.

O problema é quando a coisa descamba do protesto genuíno contra uma situação insustentável de demonstração de supremacia mundial para o modismo que se transformou o fato de dizer que detesta os americanos e seus produtos. Se esvaziar quatorze garrafas de Coca-Cola no pátio de uma empresa gaúcha lhes parece que resolverá e impedirá que o imbecil do Bush continue, à revelia de tudo e de todos que já mostrou desprezar, sua guerrinha particular pelo domínio do petróleo mundial, não tenho mais noção de nada e as coisas devem, então, se resolver com uma facilidade impressionante. Talvez seja a hora de manifestações contra mitos de guerra e de violência que, subliminarmente, sempre agiram para nos impregnar com a tendência bélica americana. Revoltemo-nos contra os velhos barrigudos que ainda locam filmes do Charles Bronson, este ápice da violência desmedida e não assistamos mais Rambo quando passar pela 541ª vez na TV Globo.

Vamos perguntar sobre a participação societária de americanos em cada bolinho de bacalhau que ingerirmos pelos bares e agredir a qualquer um que se dirigir a nós pela rua pronunciando um excuse me cheio de violência e proselitismo americano.