18 março 2006


O caminho de Los Angeles [John Fante]



O Arturo Bandini de "O Caminho de Los Angeles" não é, em definitivo, nem o mesmo Arturo de "Espere a Primavera, Bandini", nem de "Pergunte ao Pó" por mais que - e isto me ocorre só um tanto agora - possa se aproximar, talvez (e ainda assim com muita boa vontade de nossa parte) e tão somente do Bandini de "Sonhos de Bunker Hill".

Não obstante a liberdade artística na criação e modificação deste seu alter ego, o mínimo que esperava de John Fante, ao ler este livro, é que com ele o autor seguisse o mesmo caminho que vinha traçando sobre a vida de Bandini. Por se situar em uma fase cronologica intermediária a "Espere a Primavera" e "Pergunte ao Pó", me parecia ser a fascinante possibilidade de saber de que maneira mesmo este anti-herói se insuflou pelo desejo de ser escritor, já que isto não é dito em "Espere a Primavera, Bandini", onde temos Arturo em uma fase muito jovem de sua vida, uma criança, cuja maior preocupação é com a miséria da família e cujos únicos sonhos perpassam uma carreira como jogador de beisebol. De modo que temos um salto daí para o "Pergunte ao Pó", onde ele já trata de se estabelecer em sua profissão.

O que deveria nos trazer este ínterim, este período nebuloso entre as duas fases, na verdade apresenta um delirado e enlouquecido protagonista, um Bandini que além de não se assemelhar em nenhum momento ao Bandini que conhecemos anteriormente (até por que está edição da José Olympio saiu mais recentemente), realmente é um outro Bandini - até a sua constituição familiar é diferente: os dois irmãos mais novos citados nos outros livros não existem e nunca parecem ter existido, e surge uma irmã chamada Mona, a quem nunca se fez referência nos livros anteriores.

O Bandini de "O caminho de Los Angeles", embora mais velho que em "Espere a Primavera, Bandini", é um personagem infinitamente mais imaturo, um Bandini perverso, inconseqüente e fútil ao extremo, com delírios enlouquecidos - um completo idiota violento com sua família, agressivo gratuitamente e sem claras pretensões de vida. Tudo o que lhe apraz é perturbar sua irmã e sua mãe, duas mulheres muito religiosas, e vociferar contra Deus e contra todos, perambulando sem rumo e passando por empregos desprezíveis até se enfiar numa asquerosa fábrica de enlatados de peixes. Este Arturo Bandini lê Nietzche e sai repetindo termos que considera pomposos, pretendendo humilhar intelectualmente sua irmã que não se importa com seus achaques até o momento em que Bandini a perturba, bem como a sua mãe, o que acontece a todo momento.

A justificativa que encontro para esta diferenciação tamanha é por este se tratar do primeiro romance de Fante, no entanto só publicado anos mais tarde, quando suas obras anteriores já tinham vindo a público. O que me leva a crer que Fante não somente reinventou seu personagem mais importante desde a sua narrativa de infância, como também não se deu ao trabalho de incluir este na cronologia dos seus livros anteriores.