"Uma Vida Iluminada" (Everything is Illuminated,2005) é um destes filmes cujo início – e muito do que virá durante - causa imensa estranheza. É o resultado da utilização de recursos narrativos do mesmo tipo que podem ser vistos em filmes como Os Excêntricos Tenembauns e até em Encontros e Desencontros: planos de longa duração com uma fotografia tão meticulosamente detalhista e um cuidado absoluto em cada elemento cênico, que a cena isolada é acaba sendo uma obra a qual vale a pena prestar muita atenção (e retornar diversas vezes para se observar algum detalhe que não pode deixar de ser revisto ou prestar ainda mais atenção a um diálogo fenomenal que vale a pena uma segunda ou terceira audição). Os personagens "estranhos" é outro detalhe comum a estes filmes, com comportamentos exagerados em determinados pontos, ou minimalistas em outro, mas tão ao extremo, que sua presença na tela acaba causando no filme uma atmosfera de fábula – recurso que, no caso de "Uma Vida Iluminada" é intensificado pelo grande contraste de cores em algumas tomadas e paisagens e trilha sonora belíssimas, envolvendo o espectador em uma irrealidade ainda mais encantandora. É interessante que tal estratégia acaba reforçando a atenção para seu contraponto não-visual: os diálogos, carregados em significação e quase sempre tão intensos quanto parcos.
O filme é baseado no primeiro livro de Jonathan Safran Foer, "Tudo se Ilumina" autor incensado que já lançou no Brasil seu segundo romance "Extramamente Alto & Incrivelmente Perto" e é a estréia na direção do ator Liev Schreiber (Sob o domínio do mal). No longa, Elijah Wood é Jonathan Safran Foer, um judeu norte-americano que que tem como hobby colecionar tudo o que acha interessante. E nisto se incluem a dentadura da sua avó, flores, terras, dinheiro, fotografias, inseto e uma infinidade de pequenos objetos a que ele se refere como "lembranças familiares". Foer (personagem que, embora tenha o mesmo nome do autor do livro, não existe rasamente como recurso autobiográfico, embora, lógico, ele exista. Pelo pouco que soube a respeito do livro que ainda não li, o personagem funciona em um nível de metalinguagem mais complexo),depois de ser presenteado com uma foto que mostra seu avô, ainda jovem, ao lado de uma garota ucraniana, conclui que a mesma foi a responsável pela fuga de seu antepassado daquele país durante a ocupação nazista e decide partir para a Ucrânia para encontrá-la. Para isso, contrata os serviços de uma pequena empresa familiar da Ucrânia, dedicada a conduzir turistas à procura de seus parentes desaparecidos durante a Segunda Guerra.
A "empresa", representada pelo jovem Alex Jr.(Eugene Hutz, vocalista da banda punk Gogol Bordello - que assina algumas das canções do filme), o velhote ranzinza Alex (Boris Leskin) e a cadela Sammy Davis Jr. Jr., parte em viagem a bordo de um carrinho soviético caindo aos pedaços. A saga, que logo transforma o filme em um road movie os leva por pequenas estradas da Ucrânia atrás daquela então jovem que teria salvo o velho Safran Foer dos nazistas.
O humor burlesco do filme, recheado de estranhezas de linguagem, registra críticas disfarçadas à globalização (o tradutor Alex Jr. é um hilariante jovem ucraniano que se veste como um rapper negro, é apaixonado por hip-hop e Michael Jackson e faz confusões linguísticas que por vezes põem por terra a chatice do politicamente correto. Em determinada cena, comenta com Jonathan - a quem chama de ‘Jofen’: "The negroes are such premium people", com uma inocência que questiona do porquê de não ser apropriado usar tal termo) e discute o anti-semitismo sem quedar-se no sentimentalismo. Alex, o avô de Alex Jr., o motorista ranheta que acredita que é cego - e portanto, precisa da ajuda da demente cadela-guia Sammy Davis Jr. Jr. - é outro que rouba o filme.
Explorando as locações com brilhante sensibilidade e com uma trilha sonora envolvente, "Uma Vida Iluminada" conduz a uma série de descobertas que não contemplam tão somente o taciturno Jonathan. Outro personagem durante a viagem fará descobertas tão ou mais trágicas que a sua.
Ao final de tudo, "Uma vida Iluminada" parece que passou com uma grande rapidez, tal a leveza e os instantes de humor que o perpassam. Sensível e muito divertido, é uma ótima estréia de Schreiber como diretor, um filme que garante momentos realmente memoráveis sem jamais cair na pieguice.
O filme é baseado no primeiro livro de Jonathan Safran Foer, "Tudo se Ilumina" autor incensado que já lançou no Brasil seu segundo romance "Extramamente Alto & Incrivelmente Perto" e é a estréia na direção do ator Liev Schreiber (Sob o domínio do mal). No longa, Elijah Wood é Jonathan Safran Foer, um judeu norte-americano que que tem como hobby colecionar tudo o que acha interessante. E nisto se incluem a dentadura da sua avó, flores, terras, dinheiro, fotografias, inseto e uma infinidade de pequenos objetos a que ele se refere como "lembranças familiares". Foer (personagem que, embora tenha o mesmo nome do autor do livro, não existe rasamente como recurso autobiográfico, embora, lógico, ele exista. Pelo pouco que soube a respeito do livro que ainda não li, o personagem funciona em um nível de metalinguagem mais complexo),depois de ser presenteado com uma foto que mostra seu avô, ainda jovem, ao lado de uma garota ucraniana, conclui que a mesma foi a responsável pela fuga de seu antepassado daquele país durante a ocupação nazista e decide partir para a Ucrânia para encontrá-la. Para isso, contrata os serviços de uma pequena empresa familiar da Ucrânia, dedicada a conduzir turistas à procura de seus parentes desaparecidos durante a Segunda Guerra.
A "empresa", representada pelo jovem Alex Jr.(Eugene Hutz, vocalista da banda punk Gogol Bordello - que assina algumas das canções do filme), o velhote ranzinza Alex (Boris Leskin) e a cadela Sammy Davis Jr. Jr., parte em viagem a bordo de um carrinho soviético caindo aos pedaços. A saga, que logo transforma o filme em um road movie os leva por pequenas estradas da Ucrânia atrás daquela então jovem que teria salvo o velho Safran Foer dos nazistas.
O humor burlesco do filme, recheado de estranhezas de linguagem, registra críticas disfarçadas à globalização (o tradutor Alex Jr. é um hilariante jovem ucraniano que se veste como um rapper negro, é apaixonado por hip-hop e Michael Jackson e faz confusões linguísticas que por vezes põem por terra a chatice do politicamente correto. Em determinada cena, comenta com Jonathan - a quem chama de ‘Jofen’: "The negroes are such premium people", com uma inocência que questiona do porquê de não ser apropriado usar tal termo) e discute o anti-semitismo sem quedar-se no sentimentalismo. Alex, o avô de Alex Jr., o motorista ranheta que acredita que é cego - e portanto, precisa da ajuda da demente cadela-guia Sammy Davis Jr. Jr. - é outro que rouba o filme.
Explorando as locações com brilhante sensibilidade e com uma trilha sonora envolvente, "Uma Vida Iluminada" conduz a uma série de descobertas que não contemplam tão somente o taciturno Jonathan. Outro personagem durante a viagem fará descobertas tão ou mais trágicas que a sua.
Ao final de tudo, "Uma vida Iluminada" parece que passou com uma grande rapidez, tal a leveza e os instantes de humor que o perpassam. Sensível e muito divertido, é uma ótima estréia de Schreiber como diretor, um filme que garante momentos realmente memoráveis sem jamais cair na pieguice.