24 outubro 2006

Parece que a Piauí esgotou nas bancas. Consegui surrupiar uma aqui da agência – embora fosse pouco provável que daqui ela fosse desaparecer. Pessoal de agência costuma ignorar Bravos, EntreLivros e quetais em detrimento da Sexy, que some no primeiro dia em que chega e a Playboy, cuja capa na maioria das vezes não consigo nem ver. Muita febre, essa Piauí. Resenhas elogiosas chovendo de todo canto ("Nunca vi coisa igual!", "O Brasil estava precisando de uma revista como esta!", "Melhor lançamento dos últimos 10 anos!" e comentários exclamativos congêneres) e eu com meu nariz torto quando todo mundo paga muito pau. Mas daí li que tinha matéria da Vanessa Bárbara lá. Hum, isto deve estar bom, foi o que pensei com meu fecho-èclair. E passei-lhe a mão. Nem é preciso dizer o que todo mundo já disse, mas eu digo: o texto da Vanessa Bárbara é sensacional. "Bom dia, meu nome é Sheila" é um tratado antropológico sobre este cotidiano realmente sofrível dos odiados atendentes de telemarketing. Com aquele humor fino da Vanessa Bárbara mas sem cair em ironias e olhares superiores.

O texto sobre o Roberto Jefferson também é uma beleza ("Construí minha vida com fidúcia", expressão do figura. Maravilha.). Agrupado com outros textos logo no começo da revista (um pequeno ensaio muito divertido sobre as vendedoras evangélicas de acarajé, que mesmo em plena Bahia, não hesitam em trabalhar na ilegalidade para não ter que se inclinar à lei que as obriga a usar as vestimentas do candomblé), fazem parte, contudo, do ponto negativo da revista: não creditar os autores dos textos. Falha, falha.

Além, uma texto de Ivan Lessa relatando seu retorno ao Rio de Janeiro depois de vinte e seis anos e tantos. Fora a superioridade e esnobismo travestidos de gracejos, decepcionante o texto com todo o estilinho blog, dividido em preguiçosas notinhas. Buenas, e mais o texto sobre a cultura de um país imaginário, e que ainda não li, o somatório é uma revista que, até por não apresentar as amarras de colunas fixas, promete muita coisa se continuar no caminho de produção de textos longos e originais. O que melhorar é o formato. Abandonar aquele gigantismo nada prático e melhorar a qualidade do papel, primo-irmão do papel jornal.