Olha o 2007 aí!
Ainda bem que não comecei o ano com ele, senão certamente teria começado muito mal. Para falar a verdade, ainda bem que não o comprei, seria perda total de dinheiro. O que me obrigou a chegar ao final de "Ela e outras mulheres", o último de Rubem Fonseca, foi, na verdade, um compromisso tanto em valorizar quem me emprestou o exemplar, quanto em honrar a leitura, um gesto simbólico de respeito mínimo com o escritor. Não que deva algum gesto de declinação qualquer a Rubem Fonseca. Embora não queira entrar aqui em detratações do autor, nunca fui fã de sua obra e acho que há muito tempo ela entrou em uma situação que encontra símbolo máximo em "Ela…": automatismo.
É lugar-comum enunciar que Rubem Fonseca tem feito auto-decalcagem em seus livros, que esteja emulando a si próprio ou que caiu em uma armadilha de clichês que beira o pastiche. Na verdade, o que mais salta aos olhos, é o caráter burocrático que permeia cada um dos 27 contos da obra, narrativas entediadas e entediantes de personagens e tramas previsíveis. Cada um dos contos tem o nome de uma mulher – ora vítimas ora algozes – e mínimo que se espera em se tratando de um conto, como uma reviravolta, uma possibilidade tênue que seja de surpresa, não encontra resposta em nenhum deles. Todos caminham a esmo para a mesmice, para a previsibilidade absoluta ou para um final "espertinho" que mais parece um solução cansada de alguém disposto a fazer piada de seu próprio estilo.
Em algum dia li uma observação de alguém que dizia que os personagens de Rubem Fonseca, há muito, pecam por um detalhe: têm o mesmo narrador. Mudam seus nomes, os detalhes sobre suas vidas, mesmo o sexo, mas abusam da mesma frieza, da mesma facilidade de cometer crimes ou tramarem os mais absurdos planos como quem passa a margarina no pão no café da manhã. Aqui, reunidas, estão boas provas dissos. Em alguns contos, inclusive um personagem é recorrente: o matador, o frio e profissional matador. E estão aqui, desfilando também, as falsas carolas, os gordos frustrados, os obsessivos sexuais, as suburbanas gostosinhas, as empregadas mulatinhas, toda a corja saída desta galeria pequeno-burguesa e estereotipada em que os livros de Rubem Fonseca servem-se com tanto gosto.