Sim, o vocalista canta como Julian Casablancas. Sim, as guitarras distorcidas e o vocal com desafinos cuidadosamente estudados também fazem parecer muito com uma versão tupiniquim de Strokes. Algo que aconteceria se alguém resolvesse seguir o exemplo do que Madoninha fez e soltar versões ipsis literis da banda novaiorquina. Tá bom, não precisamos ir tão longe assim. Afinal, dizer que Moptop nada mais é do que um pastiche de Strokes é maldade pra caramba. Na verdade, tudo o que eu queria era compor um primeiro parágrafo engraçadinho.
É óbvio que não se consegue ouvir Moptop sem pensar em Strokes. Isto é um problema? Considerando nosso complexo de inferioridade verde-e-amarelo, sim. Mas e daí? Talvez alguns não consigam ouvir Arctic Monkeys sem pensar em Strokes. Ou qualquer uma das bandas surgidas no vácuo, depois que o indie-rock-nem-tão-indie-assim assolou os Ipods de todos os modernetes.
Neste exato momento ouço novamente "Aonde quer chegar", o primeiro som que rola no MySpace dos caras e o primeiro som deles que ouvi na vida. Resistindo a saber, afinal de contas, que porra era Moptop (comentários diagonais definindo-os como uma mistura-geléia de Los Hermanos e Strokes, quando a banda começou a despontar em 2003, me fizeram manter um distanciamento com certeza mais movido por ignorância e pré-resistência do que seria necessário. Na verdade, o papo de que eram queridinhos do Luciano Huck e que o elenco de Malhação [!!!!] usava a camiseta com o nome da banda antes mesmo do lançamento de seu primeiro disco também não foi informação muito favorável para que eu - na minha insana necessidade de conhecer tudo o que aparece de novo no mundo da música - perdesse o temor de conhecer o som da banda), assim segui até o presente dia, em que lendo resenha sobre o lançamento do seu segundo CD, Como se comportar, e já repleto de maior maturidade musical, cedi e fui ouvir os caras.
Os primeiros acordes e versos de "Aonde quer chegar" ("Já são quase cinco da manhã/porque ainda insiste? Faz muito tempo que não tenho o que dizer") remete automática e absurdamente à alguma coisa entre "The modern age" (de Is this It) e "I can't win" (de Room on fire). Mas é claro que isto pode estar envolvido em um ranço que me faz querer achar Strokes em tudo o que ouço a partir de então. Mas é uma referência mais do que clara. É inevitável. As levadas de guitarra, os climas de teclados: tudo ali é uma alusão declarada à banda novaiorquina. Mas, pra meu espanto, isto não é nem um pouco ruim, porque é um rock de qualidade absurda, feito com maturidade e letras mais do que espertinhas. As melodias são trabalhadas com cuidado e constróem riffs que grudam, que consagram a banda como alguma já muito ouvida antes (porque ouvida em Strokes? Isto também - mas há uma sensação de permanência que um segundo disco dificilmente consegue apresentar). O mais interessante e que, no final das contas, permanece à grande, é uma sensação de legitimidade (contra-senso?), de que ali está um som que seria feito pelos caras mesmo se Strokes não tivesse nunca existido.
Segundo os caras, Jack Kerouac é a principal influência de Como se comportar. Fora as possibilidades de declaração marketeira (afinal, os caras são produto da Universal), já há bastante tempo não se ouvia uma banda jovem creditar um livro às suas inspirações. Normalmente as influências acabam sendo da banda/músico que mais se assemelha em questão. Coisa que bons ouvidos são capazes de se dar conta na primeira audição. Óbvio.
A voz melancólica do vocalista Gabriel Marques, se assim quisesse, poderia se enveredar por uma sucessão de baladas à la Travis, como em "Adeus". Ainda bem que vai além, e, junto com batidas quebradas, guitarrinhas com levadas por vezes emulando Dick Dale, entrega pérolas dançantes, alegres como um Klaxons no butiquim. Onde? Vá direto à "2046", mas não sem antes dar uma passadinha por "História pra contar".
Moptop, no final das contas, faz de Como se comportar um ótimo disco de rock, além de qualquer redução a um nicho. Algo de que uma banda como Fresno dificilmente conseguirá se livrar, por mais que se esforce pra ser a grande banda pop brasileira, segundo declaração dos próprios. Um som dançante e esperto como "Dasapego" é a prova de que Moptop conseguiu fazer um disco empolgante e cativante como já há tempos não se via no rock brazuca.