18 setembro 2002

De imoralidades e pornografias


Quando um colega meu me disse que achava meus contos meio indecentes, ou algo depravados, a princípio eu meio que me ofendi, mas em seguida até que relevei – é verdade que existe a agravante dele ser evangélico (e nenhum preconceito a isto, é lógico), e eu mesmo sou católico, até pouco tempo participante de grupos de jovens, e isto acabou fazendo com que eu acabasse não dando extrema importância aos seus comentários, sabendo daquela busca eterna pela extrema moral que os caracteriza.

Mas, dito isto, devo me considerar imoral e consciente desta realidade? Não. A verdade, é que, realmente, muitas vezes me debato, até, a respeito disto. Se meus contos são imorais, disseminadores de extensa putaria, propagadores de uma promiscuidade literária barata, incentivador de orgias mil e descrevem surubas intermináveis. No entanto, fazendo-se uma análise da “minha obra”, e observando os meandros e características da mesma, a sexualidade que ali aparece para mim é extremamente natural, e não fruto de uma procura por ela.

Os momentos, as intenções, os pensamentos, não propagam aquele erotismo de boteco, aquela descrição acintosamente vulgar e feita para excitar. Se muitas vezes excitam, fazem parte de um processo conseqüente que rege os desejos e fantasias de cada leitor, ou o personagem, como espelho destes. Sim, espelho. Porque a procura é por uma literatura, na maioria das vezes, honesta, representativa das minhas vivências, dos meus pensamentos, e dos pensamentos dos que me cercam. Embora, nem sempre seja assim. Lógico que há a ficção pela ficção, o fato inusitado, o nada comigo, senão não seria literatura. Se há imoralidade no ser humano ser sexual, ter desejos e devaneios, fantasias e elucubrações íntimas, então sim, há imoralidade nos meus contos e em outras categorias de textos de ficção que produzo. Se não, até que se prove o contrário, sou um mero coadjuvante neste circo de cinismo que nos envolve, onde vemos nações como os Estados Unidos, por exemplo, que, com certeza, é o maior exportador de pornografia do mundo, ter atitudes extremamente hipócritas como aquele julgamento de Larry Flint, dono da mundialmente famosa revista “Hustler”, e que pudemos ver no filme “O Povo Contra Larry Flint”.

É lógico que a nudez de açougue, a baixaria de borracharia, o sexo mal descrito, a sacanagem pela sacanagem, e, pior, como subterfúgio para uma parca qualidade literária, isto é chocante, se caracteriza como pornografia, e deve estar relegado ao seu nível, que, reconheçamos todos, é abaixo do aceitável para convivência social. Agora, nos depararmos com nossos anseios, com nossos desejos, com nossas vivências, e, de forma não propagandeada, mas naturalmente discutida, utilizar desta como forma de arte e expressão do que somos e do que queremos, acho que isto está longe de ser imoral.