24 setembro 2002

A IMAGEM PERSUASIVA

Trecho do artigo de Hélio Sussekind do site no mínimo



No caso de Lula, o trabalho de “construção” de imagem foi bem mais sofisticado, independentemente do resultado final. Impressiona como a agenda do candidato do PT foi cientificamente elaborada. Ele visitou, a menos de dois meses do pleito, Fiesp, Bovespa, Febraban, Embaixada dos Estados Unidos, Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ruralistas) e militares. A autocrítica é tema constante, sempre com viés de baixa para o radicalismo. A direção do candidato do PT rumo ao Planalto é da esquerda para o centro, da esquerda para o centro, da esquerda para o centro. Lula chegou a afirmar que não estaria preparado para governar o país em 1989, o que exime de culpa e convida a rever posição quem votou contra ele há 13 anos. O vice escolhido é tão suave quanto o tecido das toalhas fabricadas por sua companhia. Alencar é um grande empresário, o que acentua ainda mais o viés de baixa. O ápice do perfil light foi a marca recém-construída “Lulinha paz e amor”, que os jornais anunciam antecipar a fabricação de bonecos do candidato do PT. Os bichinhos da Parmalat foram uma febre, anos atrás. Talvez na próxima eleição as crianças tenham oportunidade de portar bonecos dos candidatos presidenciais.



Não é de hoje que se trata candidatos como produtos e se vendem imagens mais do que propostas. Trouxe-se, neste ano de eleições, no entanto, isto à tona com mais intensidade, porque, realmente, a radicalização do intuito publicitário tem sido grandiloqüente e salta ao olhos tamanha a sua importância na construção da figura dos candidatos, principalmente, é lógico, de Luis Inácio Lula da Silva. Totalmente diverso do sindicalista proletário suado, de camisa arremangada e barba desgrenhada, das eleições de 1989, Lula construiu, através do trabalho de Duda Mendonça, uma imagem que possibilite agradar às camadas sociais e aos grupos que o temiam, numa versão extremamente soft de petista. É o poder da publicidade mais uma vez interferindo e, para os menos desavisados, público com menor formação intelectual, na realidade, alvo favorito na campanha, acaba sendo uma manipulação açoitante, em que não se difere um candidato e, ao invés de propostas e considerações reais a respeito da imagem do partido, mostra-se um Lula comparado a um copinho de iogurte da moda.