12 setembro 2002

Sim, eu não poderia deixar de me juntar à nação mundial e, em uníssimo, fazer uma ode We Are the World por este fato aterrador que, ontem, contemplou um ano... hshs. Ah, é foda. Abaixo, minha opinião à respeito:

Se é para sermos ingênuos, que sejamos agora e sempre

Tudo rende-se à um roldão de mesmice na terra de Tio Sam. Mesmo passado um ano do atentado que ceifou as torres do World Trade Center, quando, após o incidente, toda a massa sensacionalista da imprensa se pôs a profetizar a mudança inevitável nos rumos mundiais e, principalmente, de uma modificação de conduta da potência hegemônica grandiloqüente, tudo, após assentada a poeira (real e metaforicamente falando) caminhou para o estabelecimento do mesmo plano já conhecido. Juremir Machado da Silva, em seu texto “O 11 de setembro também não aconteceu”, publicada no jornal Correio do Povo, de 08 de setembro, nos deixa claro que, se a intenção final dos terroristas – descontada a barbárie dos métodos utilizados para tal – era assustar as autoridades norte-americanas, ou comover aquela nação que continua tapando os ouvidos aos clamores de todas as nações que oprimem, ainda que grandioso, seu ato foi em vão.

Ao nos depararmos com a forma como, um ano após, tudo continua igual na nação americana, no pior sentido do fato, vemos o quanto, por vezes, a imprensa é precipitada em anunciar divisores de água para eventos que, não necessariamente, mudarão de maneira aterradora a história da humanidade.

Afirmando-nos que o 11 de setembro de 2001 não aconteceu, Juremir nos remete à teoria de Jean Baudrillard, segundo a qual um acontecimento, para ser considerado como tal, precisa alterar uma situação ou corresponder a uma expectativa.

Quando vemos que, fatos dados pela mídia como certos (de que a política externa dos Estados Unidos mudaria radicalmente, e levaria em consideração algumas evidências do terceiro mundo) simplesmente não se alteraram, ou seja, a situação é absolutamente estática, é que vemos quão indiferente à percepção geral americana o dia 11 de setembro demonstrou ser para uma menor arrogância em relação ao “resto do mundo”.

Assim como, após a barbárie nazista, disse-se que um limite havia sido ultrapassado, o 11 de setembro parecia ter-nos infringido, ainda que inconscientemente, uma idéia de que as coisas seriam vistas sob uma nova ótica a partir de então. No entanto, Jean Baudrillard tinha razão: ao publicar seu livro “A Guerra do Golfo Não Aconteceu”, só demonstrou o quanto fatos que poderiam se considerar importantes para uma nova visão de mundo renderam-se ao normalismo de guerras vãs e acontecimentos que já não trazem consigo nenhum esboço de grandiosidade aterradora, pois nos “adaptamos” constantemente a eles.

Os americanos se adaptaram a algo que tocou-lhe no âmago. Se não foram menos de 3 mil mortos que levaram Bush e seus asseclas a tratar o resto do mundo com menos superioridade, e tudo isto só serviu para mostrar-nos, mais uma vez, a capacidade norte-americana de “emoção espetacular”, que levanta torres de neon em memória de um mês do ocorrido, porque nós, longe do acontecido, vamos nos render a achar que isto poderia ser um marco de uma era de mudança por parte dos “donos do mundo”? Ingenuidade pouca é bobagem.