02 janeiro 2003

da estranha necessidade de se dizer algo porque mudou o ano
Coisas vagas todos dizem a todo tempo e muitos dizem o tempo todo, para falar a verdade. Até mesmo sobre o estranho hábito de se falar e escrever coisas marcantes que sejam um marco na passagem temporal deste calendário que estabelecemos. Das estranhas saudações e cumprimentos otimistas às promessas de que tudo depois será melhor, estendem-se as verbalizações que costumam assolar todos os cantos nesta época. É quase onipresente a sensação de que se está ultrapassando uma linha no chão e dando um passo a frente dela, mas isso, na realidade, não passa de convenção de que até o nosso subconsciente é vítima. Na realidade, não há muito ou nada para se dizer. Quem disse que há necessidade disto, para falar a verdade? Sorrisinhos?, apertos de mão?, tapinhas nas costas? Nãaaaao, acho que não. Bastaram as bebedeiras do reveillon, os ébrios tomando cassetadas dos brigadianos e as tias gordas com seus vestidos brancos. No más, fora isto, aquela sensação estranha de nostalgia, algum ódio pelas musiquinhas emocionantes e observação estupefata dos comerciais institucionais onde as pessoas se abraçam, os velhinhos seguram crianças loiras e os anjos dizem amém. Como, no final, tudo é produto dos publicitários, o resto é ilusão ou somente as coisas que sempre acontecem.