Encontrei um lugar bacana que serve pequenas porções de cérebro de macaco ainda quentes. Fica situado numa daquelas ruazinhas da Cidade Baixa da qual eu nunca sei o nome. O problema é o que o bar, restaurante, pé-sujo, seja lá o que for, sempre muda de lugar NA MESMA RUA, e todo vez que caminho por lá a fim de saborear um ainda quentinho cérebro de macaco na manteiga, que continua sendo minha especialidade preferida, apesar das diferentes e entusiasmantes variedades oferecidas, sou obrigado a olhar para todos os lados e adentrar em quase todas as casas até que, novamente, identifico aquele meu amado e recôndito local onde uma alemoa gorda de CHINELO DE DEDO muito sujo e aqueles saquinhos furados de laranja na cabeça me atende com docilidade e sempre acaba perguntando se eu gostaria de ouvir mais uma das suas cançõezinhas típicas alemãs. Eu agradeço, digo que só o cérebrozinho na manteiga está de bom tamanho, mas na maioria das vezes, ela não me escuta e puxando aquele seu irmãozinho ranhento de dentro de um cesto de vime que fica junto à janela, entoa uma daquelas cantigas pavorosas que eu tenho que escutar como se fosse de bom grado, somente para que ela não me ache antipático e me negue mais uma das suas porçõezinhas mágicas e deliciosas daquela massa quente e vermelhosa que um dia fez um macaco pensar com alguma dificuldade. Fico por ali o máximo que posso e o máximo que minha cada vez mais rechonçuda pança possa suportar, saboreando com um medo desmedido de que tudo possa terminar de uma hora para outra - o lugarejo, o talento em preparar tão deliciosos quitutes, ou mesmo a paciência em fazê-lo para mim, já que, parece, sou o único cliente daquela biboca - e me deixar estarrecido e infeliz sem poder desfrutar mais de tais delícias que descobri tão acidentalmente.
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Alessandro Garcia nasceu em 1979, em Porto Alegre. Autor de A sordidez das pequenas coisas (Não Editora, 2010), finalista do Prêmio Jabuti 2011, segundo colocado no Prêmio Clarice Lispector, da Fundação Biblioteca Nacional e com conto traduzido para o espanhol na Revista Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional.
Em 2016 participou, com o conto Cachorro correndo sem cabeça, da coletânea Cobain. Em 2015, publicou Agora que Estamos de Volta pelo selo Formas Breves, da e-galáxia, editora na qual também participou da coletânea Contos de Natal, em 2014. Publicou nas coletâneas É Assim que o Mundo Acaba (Editora Oito e Meio, 2012), Assim você me mata (Terracota, 2012), Ficção de Polpa Vol. 3 (Não Editora, 2009), Ficção de Polpa Vol. 1 (Fósforo, 2007; Não Editora, 2008) e em revistas como Ficções e Cult, além de ter conto traduzido para o inglês no Contemporany Brazilian Short Stories e para o espanhol da Cuentos Brasileños de la Actualidade.
Escreveu o perfil do escritor Jonathan Franzen para o livro Por que Ler os Contemporâneos? (Dublinense, 2014). É editor da revista de contos Flaubert.
Arquivo
Booktrailer
SOBRE
- Resenha Amálgama: "Um grande livro."
- Resenha Digestivo Cultural: "A sordidez de Alessandro Garcia"
- Resenha Ivana Arruda Leite: "A sordidez das pequenas coisas"
- Resenha Meia Palavra: "A sordidez das pequenas coisas"
- Entrevista no Paralelos: O Globo Online
- Entrevista programa Estação Cultura, TVE
- Booktrailer de "A sordidez das pequenas coisas"
- Sinopse Não Editora
- Resenha do "Ficção de Polpa".
- Entrevista no Portal Literal
- [MAIS]