14 janeiro 2003

Encontrei um lugar bacana que serve pequenas porções de cérebro de macaco ainda quentes. Fica situado numa daquelas ruazinhas da Cidade Baixa da qual eu nunca sei o nome. O problema é o que o bar, restaurante, pé-sujo, seja lá o que for, sempre muda de lugar NA MESMA RUA, e todo vez que caminho por lá a fim de saborear um ainda quentinho cérebro de macaco na manteiga, que continua sendo minha especialidade preferida, apesar das diferentes e entusiasmantes variedades oferecidas, sou obrigado a olhar para todos os lados e adentrar em quase todas as casas até que, novamente, identifico aquele meu amado e recôndito local onde uma alemoa gorda de CHINELO DE DEDO muito sujo e aqueles saquinhos furados de laranja na cabeça me atende com docilidade e sempre acaba perguntando se eu gostaria de ouvir mais uma das suas cançõezinhas típicas alemãs. Eu agradeço, digo que só o cérebrozinho na manteiga está de bom tamanho, mas na maioria das vezes, ela não me escuta e puxando aquele seu irmãozinho ranhento de dentro de um cesto de vime que fica junto à janela, entoa uma daquelas cantigas pavorosas que eu tenho que escutar como se fosse de bom grado, somente para que ela não me ache antipático e me negue mais uma das suas porçõezinhas mágicas e deliciosas daquela massa quente e vermelhosa que um dia fez um macaco pensar com alguma dificuldade. Fico por ali o máximo que posso e o máximo que minha cada vez mais rechonçuda pança possa suportar, saboreando com um medo desmedido de que tudo possa terminar de uma hora para outra - o lugarejo, o talento em preparar tão deliciosos quitutes, ou mesmo a paciência em fazê-lo para mim, já que, parece, sou o único cliente daquela biboca - e me deixar estarrecido e infeliz sem poder desfrutar mais de tais delícias que descobri tão acidentalmente.