02 janeiro 2003

vida que segue
Como é diferente e extremamente bom quando se consegue contar bem uma história que talvez soasse como melodrama barato se nas mãos erradas e tendo o elenco errado. Assisti Vida que Segue, ontem, e gostei do que vi. Além de ter um grande elenco, encabeçado aí por Susan Sarandon e Dustin Hoffman, conheci, com boa surpresa, o trabalho de um outro ator, chamado Jake Gyllenhaal [que, pela semelhança, durante quase todo o filme achei se tratar de Tobbey Maguire...] e de uma atriz que também não conhecia, uma gracinha chamada Ellen Pompeo, que surgirá em breve no novo filme de Spielberg. Pois bem, como contar sem pieguices a história de um casal que tem a filha assassinada? E como se dá, a partir de então, a relação do então noivo desta filha com os futuros sogros? Em um terreno em que o melodrama fácil pode se derramar com facilidade, o diretor Brad Silberling, do extremamente açucarado Cidade dos Anjos consegue, com leveza e humanidade, sem aqueles ataques de emotivismo, contar uma história inusitada no sentido do desconforto que tal situação pode acarretar para as duas partes, mas, ao mesmo tempo, onde o apoio e a dor da perda por uma mesma pessoa pode ser elo de ligação em não mais futuros parentes [sogros são parentes?]

Lógico que se tornará extremamente estranho, mas também uma peça de apoio a relação que então se estabelece entre os ex-futuro genro e sogros, e como isto se daria na realidade? De diversas formas, é bem verdade, diferentes são os meios de vida, mas, foi a partir de uma experiência pessoal, onde o diretor teria tido o papel de namorado que perde a namorada, que se teria se criado tal trama, como uma espécie de expiação das mágoas do condutor deste filme.

A aproximação de pessoas, que se faz necessária em nome de um ente querido e comum que se vai e o extremo para onde esta pode ser levada - envolvida, ainda, por detalhes jurídicos, uma vez que vai haver o julgamento do assassino da filha - é o mote principal. Quando o ex-noivo, envolto em uma relação de carência afetiva que pode ser confortável, mas também sufocante, mostra que os sentimentos podem se tornar ainda mais confusos, entrando em cena uma outra mulher com a qual se envolve[Ellen], traindo, de certa maneira a louca mais compreensível expectativa dos pais da noiva de que ele se mantesse eternamente solteiro, a coisa pode se tornar ainda mais emaranhada, mas também um grande exercício, onde a honestidade e a sinceridade surtirão grandes efeitos.

Com uma trilha sonora ótima, que inclui Sly & The Family Stone, Rolling Stones, Travis, Elton John, Van Morrison, Robert Plant e Jefferson Airplane, é um filme do tipo que gosto de ver para dar um tempo nas correrias das grandes e frenéticas produções: vagaroso, contemplativo e emotivo sem ser piegas.