UMBIGO
A bebedeira talvez fosse ser um pretexto extraordinariamente bem aceito na maior parte das explicações com a boca sangrando enquanto você fosse retirado violentamente daquele baile de família. Lugar onde se toca Olha a Cabeleira do Zezé não é, definitivamente, um bom lugar para se sugar o umbigo de uma completa desconhecida.
Mas enquanto você olhava fixamente, sentia-se quase como íntimo, tão claro era o modo como aquele umbigo o chamava, na imensidão daquele buraco escuro e, parecia, tão receptivo. Os amigos ficavam pulando à tua volta e gritando Vamos, vamos lá naquele grupo de mulher!, mas você não prestava muita atenção, absorto que estava em descobrir onde aquilo iria parar.
Quando pareceu que tudo era uma obra desagradável do terrível estado alcóolico em que você se encontrava, era tarde demais e, com a mesma rapidez e perspicácia com que você conseguiu atingir com a ponta da língua o fundo daquele orifíco de tão belo espécime, o rapaz truculento com a orelha deformada lhe atingiu com o cotovelo no centro do ouvido e depois disso você já não sabe mais o que aconteceu.
05 março 2003
É bem verdade que você olhava para ela enquanto tentava chegar à conclusão se lambia ou não o seu umbigo. Era um umbigo mais ou menos como todos os outros, (daqueles socadinhos, porque os saltados, que parecem com lombrigas, você sempre sentiu um nojo descomunal), não se comportava como objeto mais puro para teus desvarios e ações insanas. Mas te provocava. Ela pulava como todas elas pulam - como se o mundo fosse se acabar ou como se o seu umbigo fosse realmente o centro do mundo. Talvez tivesse imenso orgulho dele. Achasse-se tremendamente bem acabada na profundeza daquele umbigo que deveria ter espaço o bastante para reservas de água em noites mais calorentas. A noite agora estava bem assim. Tudo o que tinha ao redor do seu umbigo era suor e tudo o que você queria era lamber o suor do umbigo dela e salpicar de saliva cada poro que o estivesse rodeando.
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Alessandro Garcia nasceu em 1979, em Porto Alegre. Autor de A sordidez das pequenas coisas (Não Editora, 2010), finalista do Prêmio Jabuti 2011, segundo colocado no Prêmio Clarice Lispector, da Fundação Biblioteca Nacional e com conto traduzido para o espanhol na Revista Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional.
Em 2016 participou, com o conto Cachorro correndo sem cabeça, da coletânea Cobain. Em 2015, publicou Agora que Estamos de Volta pelo selo Formas Breves, da e-galáxia, editora na qual também participou da coletânea Contos de Natal, em 2014. Publicou nas coletâneas É Assim que o Mundo Acaba (Editora Oito e Meio, 2012), Assim você me mata (Terracota, 2012), Ficção de Polpa Vol. 3 (Não Editora, 2009), Ficção de Polpa Vol. 1 (Fósforo, 2007; Não Editora, 2008) e em revistas como Ficções e Cult, além de ter conto traduzido para o inglês no Contemporany Brazilian Short Stories e para o espanhol da Cuentos Brasileños de la Actualidade.
Escreveu o perfil do escritor Jonathan Franzen para o livro Por que Ler os Contemporâneos? (Dublinense, 2014). É editor da revista de contos Flaubert.
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SOBRE
- Resenha Amálgama: "Um grande livro."
- Resenha Digestivo Cultural: "A sordidez de Alessandro Garcia"
- Resenha Ivana Arruda Leite: "A sordidez das pequenas coisas"
- Resenha Meia Palavra: "A sordidez das pequenas coisas"
- Entrevista no Paralelos: O Globo Online
- Entrevista programa Estação Cultura, TVE
- Booktrailer de "A sordidez das pequenas coisas"
- Sinopse Não Editora
- Resenha do "Ficção de Polpa".
- Entrevista no Portal Literal
- [MAIS]