05 março 2003

UMBIGO

É bem verdade que você olhava para ela enquanto tentava chegar à conclusão se lambia ou não o seu umbigo. Era um umbigo mais ou menos como todos os outros, (daqueles socadinhos, porque os saltados, que parecem com lombrigas, você sempre sentiu um nojo descomunal), não se comportava como objeto mais puro para teus desvarios e ações insanas. Mas te provocava. Ela pulava como todas elas pulam - como se o mundo fosse se acabar ou como se o seu umbigo fosse realmente o centro do mundo. Talvez tivesse imenso orgulho dele. Achasse-se tremendamente bem acabada na profundeza daquele umbigo que deveria ter espaço o bastante para reservas de água em noites mais calorentas. A noite agora estava bem assim. Tudo o que tinha ao redor do seu umbigo era suor e tudo o que você queria era lamber o suor do umbigo dela e salpicar de saliva cada poro que o estivesse rodeando.

A bebedeira talvez fosse ser um pretexto extraordinariamente bem aceito na maior parte das explicações com a boca sangrando enquanto você fosse retirado violentamente daquele baile de família. Lugar onde se toca Olha a Cabeleira do Zezé não é, definitivamente, um bom lugar para se sugar o umbigo de uma completa desconhecida.

Mas enquanto você olhava fixamente, sentia-se quase como íntimo, tão claro era o modo como aquele umbigo o chamava, na imensidão daquele buraco escuro e, parecia, tão receptivo. Os amigos ficavam pulando à tua volta e gritando Vamos, vamos lá naquele grupo de mulher!, mas você não prestava muita atenção, absorto que estava em descobrir onde aquilo iria parar.

Quando pareceu que tudo era uma obra desagradável do terrível estado alcóolico em que você se encontrava, era tarde demais e, com a mesma rapidez e perspicácia com que você conseguiu atingir com a ponta da língua o fundo daquele orifíco de tão belo espécime, o rapaz truculento com a orelha deformada lhe atingiu com o cotovelo no centro do ouvido e depois disso você já não sabe mais o que aconteceu.