À primeira vista, Ted Cole (Jeff Bridges, indicado ao Independent Spirit Awards) é um sujeito escroto e ponto. Escritor premiado de livros infantis, egocêntrico e excêntrico, vivendo um rascunho de casamento com Marion (Kim Basinger), contrata o jovem estudante Eddie (Jon Foster) para ser seu assistente e datilógrafo durante o verão. Para o jovem, que anseia por ser escritor, parece a oportunidade mais do que desejada de adentrar no universo da literatura – descobrir os métodos, a disciplina e o trabalho de um escritor que ele tanto admira é sua chance de ouro. Não tarda, no entanto, para o jovem perceber que não há muito trabalho a se fazer. Como os livros de Cole são compostos de no máximo quinhentas palavras ("É preciso pensar e repensar cada uma delas"), se dá conta de que suas atribuições não vão variar muito de datilografar e re-datilografar a mesma página, com a modificação variável de uma vírgula para um ponto-e-vírgula ou de um ponto-e-vírgula para uma vírgula, dia após dia. Na verdade, Eddie vira seu motorista, seu leva-e-traz, assessor para todas as pequenas e desinteressantes coisas.
O que parece inevitável é que Eddie se aproxime de Marion. Sensivelmente interpretada por Kim Basinger, com uma beleza madura que não se apaga pelo envelhecimento que o choro constante lhe emprega, a desolada esposa de Cole carrega o sofrimento constante e uma apatia quase imobilizante pela morte dos dois filhos do casal. Mesmo que junto com Cole tenha tentado recomeçar a vida, em um lugar diferente e tendo uma outra filha, Ruth (a pequena talentosa Elle Fanning), nada parece fazer mais sentido para Marion. A bela casa de frente para a praia se transformou em quase um museu de fotografias onde as imagens dos falecidos Thomas e Timothy sufocam e se tornam obsessão de todos – incluindo a pequenina Ruth, que venera os irmãos que não conheceu em pessoa, prestando-lhes rituais diários de atenção a todos os detalhes de todas as fotos, cerimônia incentivada por Ted Cole. Que, mesmo à primeira vista parecendo um sacana, confunde ao se mostrar um pai atentíssimo e carinhoso, dono de um carisma que logo vai deixar claro não ser desprezo o motivo pelo qual parece deixar Marion tão abandonada.
O que parece inevitável é que Eddie se aproxime de Marion. Sensivelmente interpretada por Kim Basinger, com uma beleza madura que não se apaga pelo envelhecimento que o choro constante lhe emprega, a desolada esposa de Cole carrega o sofrimento constante e uma apatia quase imobilizante pela morte dos dois filhos do casal. Mesmo que junto com Cole tenha tentado recomeçar a vida, em um lugar diferente e tendo uma outra filha, Ruth (a pequena talentosa Elle Fanning), nada parece fazer mais sentido para Marion. A bela casa de frente para a praia se transformou em quase um museu de fotografias onde as imagens dos falecidos Thomas e Timothy sufocam e se tornam obsessão de todos – incluindo a pequenina Ruth, que venera os irmãos que não conheceu em pessoa, prestando-lhes rituais diários de atenção a todos os detalhes de todas as fotos, cerimônia incentivada por Ted Cole. Que, mesmo à primeira vista parecendo um sacana, confunde ao se mostrar um pai atentíssimo e carinhoso, dono de um carisma que logo vai deixar claro não ser desprezo o motivo pelo qual parece deixar Marion tão abandonada.
É lógico que o tímido Eddie se apaixona por Marion – a esposa em estado permanente de solidão e tristeza se torna o objeto de desejo de Eddie. E como não se encantar com aquela beleza tão perturbadora? Como se não bastasse, é incentivado por Cole, é agradecido por fazer companhia a Marion que já nem sorria mais. Os impulsos sexuais do virgem Eddie envaidecem Marion (lhe envaidece saber que alguém “ainda pensa nela”, nem que seja quando surpreende o imberbe Eddie se masturbando sob a contemplação de seu conjunto de lingerie). Não demora para que ela tente sublimar a sua tristeza iniciando sexualmente o estudante. O que é um oásis de felicidade para Eddie, é fuga para Marion; é subterfúgio para seus dias – quase catarse para refugiar-se por instantes dos pensamentos que a atordoam e realmente lhe paralisam (a cena em Eddie pergunta como foi a morte dos seus filhos é perturbadora: Marion não atende, durante horas, nem ao chamado de sua filha, olhar parado em um lugar qualquer, horas a fio, completamente alheia à realidade).
E cada um tenta a sua maneira o refúgio próprio. Cole não aparenta culpa alguma nas suas incursões sexuais. As modelos de suas pinturas (é Cole que ilustra seus próprios livros e entre suas experiências artísticas se encontra a de usar tintura de polvo para pintar seus nus) não obstante são suas amantes. Assim também é com Evelyn (Mimi Rogers), belíssima na sua nudez de mulher de meia idade, submetendo-se aos estágios diversos de observação de Cole. Da adoração à humilhação não são muitas etapas.
O filme é adaptação de A Widow for One Year (Viúva por um ano), de John Irving, um livro de 1998. O título - que, por mais que me esforce, não consigo encontrar motivo para se chamar Provocação em português (não é uma bricadeira torpe, uma sedução, um triângulo amoroso engendrado para diversão; quem provoca quem?) – original, The door in the floor (Tod Williams, EUA, 2004), faz referência a um livro escrito por Cole. Em uma magistral cena, quando é lido pelo autor para uma platéia de adultos, mostra todo o sentido metafórico contido no que não é uma ingênua história para crianças. A fábula sobre o temor do desconhecido encerra muito dos sentimentos do próprio Cole e Marion.
Se tivessem cedido ao título original aqui no Brasil - A porta no chão - haveria muito mais sentido e finalizaria perfeitamente em enlace com a cena final. A referência que fecha com chave de ouro a obra, talvez fale muito mais sobre Cole do que à primeira vista se deixou entrever.