O Jardineiro Fiel seria um filme melhor se não parecesse tão panfletário. Um filme-denúncia, é isto o que por vezes mais parece. Um interesse tão absoluto em denunciar a indústria farmacêutica e suas atrocidades no terceiro mundo, que o tom documentarista permeia a obra com freqüência.
É bem provável que fosse melhor também se se desfizesse daquela fotografia que, na África, teima em se aproximar da estética Cidade de Deus com um excesso irritante, trazendo um tom cosmético da fome, explorando mais com fetichismo e crueza pré-concebidos que com verdade [dentro dos limites ficcionais, lógico] que não seja parcial.
Quando tudo é só frieza e distanciamento em personagens sem alma, temos uma Londres azulada, opaca. Para o quente território africano, para as mazelas sociais dos negros, para a podridão e miséria de Nairóbi, o vermelho, o marrom-terra, a quentura e os suores quase animalescos. Olhar de documentarista.
A câmera na mão na maioria das vezes confere um ar tosco que a mim não se mostrou nem um pouco interessante. Parecia reedição do mais do mesmo. Auto-repetição. Se Fernando Meirelles continuar insistindo que César Charlone é o cara, todos os seus filmes poderão ter a mesma cara, e ele acabará sofrendo críticas de repetição da estética do seu filme anterior.