18 junho 2009

O segredo de Cortázar

É verdade que este tipo de publicação costuma trazer muito mais informações circundantes à atividade principal do biografado do que propriamente dados que joguem mais luz sobre sua obra. Mas também é verdade que, misto de curiosidade, interesse extremo e a mais profunda obsessão por qualquer coisa que venha a dizer respeito à ele, me agrada muito a existência de uma obra como El secreto de Cortázar (O Segredo de Cortázar), de Emilio Fernández Cicco - um livro que já tem lá a sua idade, publicado há dez anos pela Editorial de Belgrano - mas da qual soube agora, através do blog de Ariel Palacios.

Também é fato que será uma dificuldade pôr as mãos neste livro, já esgotado e que, com certeza, não irá se oferecer pra mim num obscuro sebo qualquer. O que me restou, por enquanto, foi me deleitar com o tipo de relato presente na obra, dando conta da tenra idade de Cortázar, sua adolescência tímida e seu início profissional como um imberbe professor de Literatura - e mais um longo caminho até se firmar como excepcional escritor: condição que só foi reconhecida quando exilou-se na França, nos anos 50, tornando-se um grandioso sucesso.

Até chegar a isto, no entanto, temos um Cortázar abandonado pelo pai (também Julio Cortázar - fato que o levou a assinar os primeiros trabalhos como Julio Denis), e com certas dificuldades no campo amoroso. É claro que o livro também abarca as movimentações políticas de Cortázar, quando era visto como um comunista nos seus anos de professor em Chivilcoy e em Mendoza.

Uma das declarações mais engraçadas é de sua irmã, Ofélia, indo ao encontro do reconhecimento de Cortázar como um escritor que evitava concessões. Cortázar não costumava mostrar os contos para que os lessem antes de publicado. “Quando o livro saía ele nos dava de presente e pronto. Alguém compreende os livros de Julio? Você teve paciência para ler ‘O jogo da amarelinha’. Ufa ! Por favor...Eu não consegui ler esse livro jamais...”.

Independente de informações muitas vezes comezinhas que servem tão somente à satisfação de nosso apetite curioso, este livro deve ser incrível não somente para os fãs mais ardorosos do gigante argentino que completaria 95 anos se estivesse vivo, mas até mesmo para quem interessa - e sempre há quem queira - desenhar os paralelos que são possíveis sobre como a formação do então Cortázar tornou-o O Cortázar.