Bastante sumido por aqui. Os motivos podem não ser plenamente justificáveis (partindo da premissa que sempre encontra tempo aquele que precisa de tempo para fazer algo que realmente queira), mas são reais e, porque não dizer?, nobres. Estou envolvido com aquela etapa quase tão incrível quanto a própria criação literária que é a preparação dos originais para publicação. Etapa esta que compreende aguardar com apreensão a leitura crítica de editor, a posterior sugestão de melhorias, possíveis supressões e quetais: todos os itens que objetivam, é claro, o melhor resultado final para o livro. E que passam por leituras que você mesmo, na intimidade de autor, no vício da releitura de sua própria obra, não enxergou. Muito bom este feedback, este olhar capacitado e repleto de boa vontade, sugestões que aperfeiçoam o estilo e também comprovam algumas impressões próprias que se tem, intuitivamente. Até agora tem sido só alegria a dedicação à publicação por parte da querida editora e maravilhosa leitora Lu Thomé e o editor e capista Samir Machado de Machado. Ainda estão envolvidos, e vem muita coisa boa daí, Guilherme Smee (que fez, por sinal, uma bela análise de Umbigo sem fundo) e Rodrigo Rosp.
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Eu namoro pilhas de livros. O objeto livro me seduz de maneira absurda, por isto amo ver os volumes empilhados, aqueles que já não cabem nos vãos da prateleira. Ver rechonchudas edições das cada vez mais volumosas HQs me traz sorriso na cara sempre que vou à sala e me deparo com a estante. E ali, acima de Fun Home, Retalhos, Umbigo sem fundo, Como uma luva de veludo moldada em ferro, Mesmo Delivery (entre outros, e, mais recentemente, Cachalote) – nesta minha ânsia por graphic novels que vem aumentando gradativamente – estava, já há algum tempo, Black Hole, maravilha de Charles Burns. Uma preciosidade, que matei em um fim de semana chuvoso, como têm sido todos os últimos. Não obstante a qualidade gráfica impressionante dos dois volumes da narrativa, a trama, também de autoria de Burns é algo a se destacar muito. Em uma Seatle setentista, uma espécie de vírus se espalha entre os adolescentes, transmitida através do sexo e causando deformidades que podem ir desde um singelo rabinho, a uma segunda boca junto ao pescoço, passando por horrendas protuberâncias faciais, escamas em partes do corpo, pele descamando – além de perturbadores delírios mentais – e mais um manancial de possibilidades engendradas com horror pelo autor. Aqueles atacados por deformidades tão horrendas que os levam a ser discriminados pela sociedade, acabam indo morar em uma espécie de colônia, na floresta da cidade. Esta trama não impede de acompanharmos as paixões dos personagens, bem como suas fugas através de drogas, extrema violência em uma existência que já não tem mais sentido algum. Independente do fato do autor querer ou não retratar a adolescência (nesta nossa ânsia contínua de encontrar metáforas narrativas) como uma época de trevas e incompreensão (e a crueldade dos adolescentes populares vs. perdedores é potencializada de forma gigantesca), Black Hole é uma história amarga, triste e algo traumática, mas de leitura indispensável e de deleite estético imperdível. Há algum tempo rola o boato de uma possível adaptação para o cinema, nas mãos de David Fincher, com produção de Neil Gaiman. Será?
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Estou na terceira temporada de Mad Man. Não há mais nada a declarar.