25 maio 2006

Eu tenho real admiração por quem consegue engendrar um trama honesta que visa somente o entretenimento. Por isso, e somente por isso, eu respeito e muito Dan Brown. Respeito de uma maneira geral muitos artistas e produtores que conseguem, com um toque de midas, com uma habilidade muito calculada, produzir algum tipo de produto que consegue uma aceitação muito grande. Não sou ingênuo de não saber quais são os mecanismos por trás de tudo isso, que tais fenônenos midiáticos não acontecem da noite para o dia. E também estou longe de ser um idiota submisso aos esquemas imbecilizantes, à estupidez massificadora. Ainda assim, muitos fenômenos culturais rotulados como "subprodutos" têm meu respeito. É por isso que admiro artistas como Michael Jackson e quetais. É óbvio que é preciso saber separar isto de arte verdadeira e genuína. Estou falando de produtos cujo único objetivo é "entreter", são passatempos, objetos de divertimento. Não entra em esfera artística, apesar de conter elementos de. São criações com objetivo comercial, produzidas no ritmo e com as necessidade da indústria. Niveladoras. Medianas. Medíocres na concepção mais pura da palavra. Mas competentes. Enfim, os admiro como admiro um automóvel bem construído: são belos produtos industriais.



Em nenhum momento deve-se pensar que O Código Da Vinci é alguma coisa mais do que isso. E me refiro ao livro e ao filme. O livro consegue negar a literatura de uma forma hedionda. É escrita industrializada na sua forma mais honesta. Carrega todos os clichês possíveis. E o fato de conter uma trama que se pretende "polêmica" é um destes clichês máximos. Uma novidade, um fator atrativo, um mexer com instituições. Uma provocação calculadamente comercia que alcançou seu objetivo de maneira magistral: publicidade gratuita, fomentação do bate-boca, interesse midiático. Sensacional. O sistema se move de maneira engenhosa porém previsível. Somente os néscios não conseguem enxergar sua logística.



Eu assisti a um pedaço de um documentário no GNT, chamado, eu acho "Quebrando o Código Da Vinci", e alguém dava uma declaração sobre a motivação de Dan Brown quando da decisão de escrever o romance. Disse ele que estava em férias na praia, lendo Sidney Sheldon (!!!!) e pensou: "Se ele pode fazer isso e fazer sucesso, eu posso fazer melhor." Aí foi lá e fez: a mesma escrita inacreditavelmente ruim, os mesmos vícios estruturais, os mesmos sem-número de adjetivações, os mesmos recursos torpes de suspense, os mesmos "fascinantes" personagens, mas com uma trama que atraia a interesses diversos. Fez melhor, portanto.



O resto - o caminho certo e inevitável - é o filme. Um longa metragem com qualidade de entretenimento extremamente nivelada ao livro. "Mas eu nunca vi uma atuação tão ruim do Tom Hanks!". E quais são as comparações? "Filadélfia"? "Forrest Gump"? Mas o que há de ruim na atuação dele como Robert Longdon? Nada. Honestíssima, extremamente respeitosa ao personagem do livro. E quem não tem sobre o que falar, comenta sobre o seu "estranho" corte de cabelo. Pelo amor de Deus! E dê-lhe criticar Audrey Tatou ("Ah, mas ela estava melhor em "Amèlie Poulain"). O único que se salvou foi o Sir Ian. Besteira. Qual o problema? Todas as receitas do thriller estão lá. As intrigas, a correria, perseguição automobilística, os estereótipos de bons e maus, até o suspense final. Ah, já sei. A direção, talvez não imprima caracterizações convincentes. Mas Ron Howard não é considerado como um cineasta autoral. Vejamos... ele dirigiu "Apollo 13" (1995). Se bem que "Uma Mente Brilhante" (2001) foi bastante elogiado. Mas não há nenhuma marca reincidente no diretor, nenhuma daquelas características passíveis de se admirar nos grandes mestres do cinema. Enfim. Perfeito para uma narrativa industrial pausterizada: um sujeito competente, com o qual não se corre risco algum. O resultado é um thriller certeiro.



A indústria de entretenimento norteamericana está cada vez mais medianamente nivelada, as produções se igualam em sua carga de imbecilidade e as salas continuam a lotar estrepitosamente. Não há o que ser dito: o formato é esse e dentro de sua proposta fílmica, a película cumpre muito bem seu papel. Diversão inofensiva para as noites de sábado. Não rende nem um papo a mais na hora da pizza (e nesta hora me encanta ouvir sobre as "acaloradas" discussões que as "teorias" do filme surtem. Risível. Há mais mentiras e inverdades na Igreja do que um décimo do que pretende acusar Dan Brown...).Mas quem se encarcera no cinema hollywoodiano pode querer o que mais?