Pecados íntimos
Um casal de amantes adúlteros, um pedófilo exibicionista, um ex-policial moralista americano com histórico de erro profissional, um marido ausente que se masturba com pornografia na Internet... Pratos cheios para se cair no clichê de contestação gratuita da moralidade, se estivessem nas mãos de um diretor menos hábil que Todd Field. Em Pecados íntimos (Little Children, EUA, 2006), entrecruzando todos estes personagens, como virou moda desde que Robert Altman consagrou o estilo (seguido por Paul Thomas Anderson tão bem, cada vez mais cansativa e repetitivamente por Alejandro González Iñárritu e execravelmente por Paul Haggis, de Crash), o resultado é sutil, avesso ao julgamento e distante de esterótipos.
A narrativa é interessante, com seu narrador onisciente fazendo comentários sofisticados em off, consegue um efeito semelhante à Beleza Americana, de Sam Mendes, mas as comparações acabam por aqui. Em Pecados íntimos, o que Field parece examinar é a dificuldade de adultos encararem a maturidade, suas ações e preocupações. Embora os personagens não se conformem com seus papéis estabelecidos, com seu cotidiano modorrento, nada fazem de concreto para buscar outras possibilidades. Se Sarah (Kat Winslet), casada com um milionário que encontra consolo na pornografia fetichista da Internet e mãe de uma menina, se envolve com Brad (Patrick Wilson), advogado que nunca consegue passar no exame da Ordem, casado com uma documentarista que sustenta a ele a ao filho, não é porque com isso pretendam realmente modificar a rotina que lhes agonia. O caso extraconjugal, que começa a partir dos encontros com os filhos no playground, evoluindo para as tardes de sol na piscina comunitária, em um primeiro momento aponta para a descoberta sim, de novas possibilidades de mudança, para a busca de outros papéis. Para a construção de uma vida nova juntos. Mas não nos surpreendemos quando, por fim, tudo resvala tão somente para a fuga rala, para o escamoteio de inconformismo através do sexo, num furor quase adolescente e gratuito. São eles as little childrens do título original, as pequenas crianças, não seus filhos, personagens freqüentes a permear toda a obra.
O adulto com dificuldade de realmente crescer é o perturbado Ronnie J. McGorvey (Earle Haley), um ex-prisioneiro que assediava crianças, exibindo-se para elas, e que se torna o terror do pacato bairro para onde se muda. Mas é também o ex-policial Larry Hedges (Noah Emmerich), o ex-policial afastado da Polícia após um tiroteio em um shopping que acabou mal, que parece encontrar na obsessão em não permitir que um homem perigoso como Ronnie tenha paz suficiente para abordar crianças no bairro, a distração para não se defrontar com seus próprios problemas.
É do entrecruzamento destas histórias e do aprofundamento de reflexões que se faz Pecados íntimos, com seu rascunho de sociedade americana marcada por atitudes conservadoras (as freqüentadoras diárias do playground, que se escandalizam quando Sarah é beijada por Brad) e buscando sempre policiar o que parece fugir à normalidade (escamoteando suas perversões em quartos fechados, em sexualidade abafada), o que vai longe das tardes tranqüilas do subúrbio e que pode poluir as águas da piscina pública, macular a areia do playground diário. Perverter a modorra cotidiana das donas de casa reprimidas.
A narrativa é interessante, com seu narrador onisciente fazendo comentários sofisticados em off, consegue um efeito semelhante à Beleza Americana, de Sam Mendes, mas as comparações acabam por aqui. Em Pecados íntimos, o que Field parece examinar é a dificuldade de adultos encararem a maturidade, suas ações e preocupações. Embora os personagens não se conformem com seus papéis estabelecidos, com seu cotidiano modorrento, nada fazem de concreto para buscar outras possibilidades. Se Sarah (Kat Winslet), casada com um milionário que encontra consolo na pornografia fetichista da Internet e mãe de uma menina, se envolve com Brad (Patrick Wilson), advogado que nunca consegue passar no exame da Ordem, casado com uma documentarista que sustenta a ele a ao filho, não é porque com isso pretendam realmente modificar a rotina que lhes agonia. O caso extraconjugal, que começa a partir dos encontros com os filhos no playground, evoluindo para as tardes de sol na piscina comunitária, em um primeiro momento aponta para a descoberta sim, de novas possibilidades de mudança, para a busca de outros papéis. Para a construção de uma vida nova juntos. Mas não nos surpreendemos quando, por fim, tudo resvala tão somente para a fuga rala, para o escamoteio de inconformismo através do sexo, num furor quase adolescente e gratuito. São eles as little childrens do título original, as pequenas crianças, não seus filhos, personagens freqüentes a permear toda a obra.
O adulto com dificuldade de realmente crescer é o perturbado Ronnie J. McGorvey (Earle Haley), um ex-prisioneiro que assediava crianças, exibindo-se para elas, e que se torna o terror do pacato bairro para onde se muda. Mas é também o ex-policial Larry Hedges (Noah Emmerich), o ex-policial afastado da Polícia após um tiroteio em um shopping que acabou mal, que parece encontrar na obsessão em não permitir que um homem perigoso como Ronnie tenha paz suficiente para abordar crianças no bairro, a distração para não se defrontar com seus próprios problemas.
É do entrecruzamento destas histórias e do aprofundamento de reflexões que se faz Pecados íntimos, com seu rascunho de sociedade americana marcada por atitudes conservadoras (as freqüentadoras diárias do playground, que se escandalizam quando Sarah é beijada por Brad) e buscando sempre policiar o que parece fugir à normalidade (escamoteando suas perversões em quartos fechados, em sexualidade abafada), o que vai longe das tardes tranqüilas do subúrbio e que pode poluir as águas da piscina pública, macular a areia do playground diário. Perverter a modorra cotidiana das donas de casa reprimidas.