Publicado no Paralelos Blog
Dúvida (Doubt, 2008) é um grande filme? Isto está claro - embora, para alguns, este fato não seja necessariamente parecer de qualidade - pela cinco indicações que levou para o Oscar (Melhor Atriz, para Meryl Streep; Melhor Ator Coadjuvante, para Philip Seymour Hoffman; Melhor Atriz Coadjuvante, tanto para Amy Adams quanto para Viola Davis e Melhor Roteiro Adaptado, para John Patrick Shanley). Mas, vejamos: que filme com um elenco que inclui Philip Seymour Hoffman e Meryl Streep (com sua 15ª indicação!) não seria um grande filme? Estarei sendo ingênuo ou por demais crente tão somente da grandiloqüência dramática que atores como estes são capazes de oferecer a um filme, ou estou certo em minha conclusão de que, realmente, é preciso ser um diretor excepcionalmente incompetente para não fazer um grande filme com estes dois atores? E, deixando claro que somente me referi aos dois principais (embora Hoffman conste como coadjuvante, neste, como em todos os seus filmes, sua presença é tão impressionante que é difícil dar-se conta disto), sem fazer menção aos desempenhos fantásticos de Amy Adams e de uma colossal Viola Davis que, em uma(!) cena tem uma interpretação tão arrebatadora que foi o suficiente para não somente garantir sua indicação ao Oscar, mas também para deixar boquiaberto o menos sensível dos admiradores das artes dramáticas.
Dúvida (Doubt, 2008) é um grande filme? Isto está claro - embora, para alguns, este fato não seja necessariamente parecer de qualidade - pela cinco indicações que levou para o Oscar (Melhor Atriz, para Meryl Streep; Melhor Ator Coadjuvante, para Philip Seymour Hoffman; Melhor Atriz Coadjuvante, tanto para Amy Adams quanto para Viola Davis e Melhor Roteiro Adaptado, para John Patrick Shanley). Mas, vejamos: que filme com um elenco que inclui Philip Seymour Hoffman e Meryl Streep (com sua 15ª indicação!) não seria um grande filme? Estarei sendo ingênuo ou por demais crente tão somente da grandiloqüência dramática que atores como estes são capazes de oferecer a um filme, ou estou certo em minha conclusão de que, realmente, é preciso ser um diretor excepcionalmente incompetente para não fazer um grande filme com estes dois atores? E, deixando claro que somente me referi aos dois principais (embora Hoffman conste como coadjuvante, neste, como em todos os seus filmes, sua presença é tão impressionante que é difícil dar-se conta disto), sem fazer menção aos desempenhos fantásticos de Amy Adams e de uma colossal Viola Davis que, em uma(!) cena tem uma interpretação tão arrebatadora que foi o suficiente para não somente garantir sua indicação ao Oscar, mas também para deixar boquiaberto o menos sensível dos admiradores das artes dramáticas.
A grande questão para mim, é a seguinte: Dúvida é um filme sustentado tão somente por atuações extraordinárias (e isto é pouco?), principalmente dos dois atores primeiramente citados (ainda que Meryl Streep esteja entrando naquele perigoso terreno dos grandes atores, no qual o padrão de atuação acabe mostrando mais do próprio ator do que do personagem em questão. Exemplificando: uma pequena coleção de vilões, por exemplo, tem lhe garantido personagens cruéis de construção relativamente semelhantes, que correm o risco de virar clichê em seu currículo. Uma constatação, é claro, repleta de maldade e má vontade. É que costumo ficar atento a pequenices como estas...).
Definitivamente, não é um filme fruto de um roteiro estupendo. Não negando sua origem teatral, Dúvida constrói uma trama relativamente básica para jogar no espectador a premissa da dificuldade de exercitar definições morais em uma situação repleta de incertezas. É esta dúvida que tem a irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), a diretora com mãos de aço que acredita no poder do medo e da disciplina, quando se depara com a possibilidade do carismático padre Flynn (Philip Seymour Hoffman), estar mais do que tentando modificar rígidos costumes típicos de uma escola cristã no ano de 1964: desaba sobre a irmã a dúvida de que talvez o padre esteja abusando sexualmente de um dos alunos da escola St. Nicholas, cenário da trama.
Ao mesmo tempo que sopram os primeiros ventos de mudanças sociais, que permitem a inclusão de um aluno negro na escola, por exemplo, talvez seja este mesmo aluno, Donald Miller (Joseph Foster II), vítima de preconceito de seus colegas e parte mais sensível da história, que esteja sofrendo em sua situação mais do que intolerância racial, mas, posto como aluno "preferido" a ser protegido pelo padre, para a irmã Aloysius começa a ficar claro que esta proteção está excedendo todo e qualquer limite. Uma suspeita que, em verdade, começa a ser levantada pela insegura irmã James (Amy Adams), uma freira inocente e esperançosa que também vê atenção exagerada do padre Flynn à Donald, o coroinha tão completamente envolto nos carinhos do religioso.
O que resta a fazer, então, a uma diretora que sempre levou a escola com mãos de aço? Considerar a possibilidade de tudo ser um grande engano, uma vez que não se tem provas de nada e lidar com a dúvida eterna de estar acobertando um padre abusivo na sua comunidade cristã? Ou, com as mesmas mãos de aço que sempre marcaram suas ações, não titubear e, mesmo sem poder comprovar o fato em questão, empreender uma cruzada para banir o padre da escola? Nunca esquecendo que não há nenhuma evidência a não ser a certeza moral da irmã (ou será somente o julgamento de ser dona de todas as verdades?).
Sendo adaptação de uma peça, que rendeu o Pullitzer ao também dramaturgo (e, aqui, diretor e roteirista do filme) John Patrick Shanley, Dúvida evidencia-se ainda mais intensamente como um filme de atores por sua estrutura metódica, seca, sem concessões a ambientações ou quaisquer outros elementos que tirem a presença dos atores como peça central da tela. Uma das poucas vezes em que isto acontece é, por exemplo, na cena do sermão do padre Flynn, quando se insurge na cerimônia para atacar a intolerância da irmã Aloysius através de palavras inflamadas. Esta, uma das seqüências mais bonitas do filme, da qual se serve Shanley para arejar sua narrativa com tomadas externas, ilustrativas da metáfora do travesseiro soltando penas de cima de um edifício, captadas pela fotografia, de belo efeito visual e funcionalidade dramática, de Roger Deakins, indicado ao Oscar por outro trabalho belíssimo, Foi Apenas Um Sonho, de Sam Mendes.
Um filme de atores, carregado de resquícios teatrais, é bem verdade, mas com um duelo de interpretações memoráveis, somente uma coisa - e perdoem-me o irresistível e inevitável trocadilho - não resta dúvida: é um filme imperdível.