“Quero andar naquele”, disse eu com uma voz inexpressiva.
Pelos vinte minuto seguintes, nós três embarcamos e tornamos a embarcar no carrossel sem graça, para que nossos bilhetes de entrada não fosse um total desperdício. Eu não tirava os olhos do piso de metal em placas do carrossel enquanto irradiava vergonha, devolvendo num vômito mental o presente que tinham tentado me dar. Minha mãe, toda a vida uma viajante aplicada, tirou fotos do meu pai e de mim em nossos desconfortáveis cavalinhos, mas por baixo da sua animação forçada estava irritada comigo, pois sabia que era dela que eu estava me vingando, por causa da nossa briga pela questão das roupas. Meu pai, com os dedos agarrando frouxamente a barra que empalava seu cavalo, olhava para a distância com um ar de resignação que resumia sua vida. Não sei como os dois suportavam aquilo. Eu tinha sido seu filho temporão e feliz, e agora tudo o que eu queria era me ver longe deles. Minha mãe me parecia horrendamente conformista e irrecuperavelmente obcecada com o dinheiro e as aparências; meu pai me parecia alérgico a qualquer tipo de diversão. Eu não queria as mesmas coisas que eles. Eu não dava valor ao que eles valorizavam. E estávamos todos igualmente infelizes naquele carrossel, e éramos todos igualmente incapazes de explicar o que acontecera conosco.
(Jonathan Franzen, A zona do Desconforto, Companhia das Letras, 2008, pg. 35)