21 outubro 2013

5 livros



Espere a primavera, Bandini
John Fante

Arturo Bandini tem pressa. Mas na sua pressa, ele espera, somente. Espera que os dias tristes evaporem junto com a neve, derretida pelo sol que virá. Espera que a primavera chegue logo e o liberte dos dias enregelados, da estufa a ser ligada todos os dias e dos casacos puídos que o envergonham no colégio. Quer principalmente que o sol derreta o campo de beisebol para que ele possa voltar a aspirar ao sonho de jogador. Bandini espera por mais do que um sorriso de escárnio da menina Rosa. John Fante -- aqui, ainda mais que em Pergunte ao Pó -- mostra-se um escritor que não tinha medo da emoção. É a história sensível de um personagem em formação que me arrebatou em minha adolescência e ainda hoje me emociona.




O olho mais azul
Toni Morrison

Se os personagens de Toni Morrison somente reagissem violentamente, como lhes é esperado, se não se envolvessem em ideias por vezes tão obtusas como tentativa de fuga de sua realidade, seriam protótipos do negro sofredor da década de 40. Mas são muito mais do que isto. E é o que nos motiva para descobrir quem olhou com tal aversão para Pecola Breedlove, criança e negra, e lhe fez desejar com tal ardor os olhos azuis mais intensos para apaziguar (quem sabe?) seu sentimento de aversão por si mesma. O Olho mais Azul é um livro generoso: dá voz a um ser incapaz de compreender a violência “tão natural” que lhe envolve. Em uma linguagem coloquial, que vai destrinchando a destruição da vida de uma menina, como se fosse algo corriqueiro. É um dos meus livros mais queridos por deixar muito claro o poder narrativo que um escritor é capaz de alcançar.



As armas secretas
Julio Cortázar

Cortázar é meu escritor preferido. Daí a dificuldade em decidir qual de seus livros gosto mais. Iniciei cronologicamente, por Bestiário, mas foi quando cheguei a este que fiquei estupefato com as possibilidades do conto. A voz do autor é impressionante e seu conto “O perseguidor”, aqui presente, é sensacional. Uma obra-prima do gênero que utiliza o jazz como mote para desmembrar as amarras da escrita. Todos os contos deste livro desconstroem as estruturas tradicionais narrativas e vão muito além do (muitas vezes) fantástico só pelo estranhamento, de livros anteriores. Sua preocupação neste livro é o homem, por isto ele é repleto de humanidade. Mesmo sem abrir mão da metalinguagem e de toda sua destreza para destrinchar os problemas da escrita enquanto nos conta uma história. É uma verdadeira ode às possibilidades do conto. Cortázar é um autor que me inspira e me faz feliz pelo ofício da escrita, sempre.




A fortaleza da solidão
Jonathan Lethem

A obsessão de Dylan Ebdus, o protagonista de Lethem, por tudo o que construiu seus dias quando era só um menino branco em um Brooklyn então repleto de tensão racial, é capaz não só de decifrar, mas de nebular toda sua vida adulta. E nesta infância estamos falando de ideias de integração racial somente como rascunho, em um bairro fervilhante de brancos, hispânicos e negros. O que não o impede de desenvolver uma amizade com o negro Mingus Rude, filho de uma outrora estrela do funk. Aliás, o funk, o hip-hop, as HQs e o grafite fazem parte desta espécie de romance de formação meio autobiográfico. Um calhamaço repleto de momentos lindos e amargos. Volta e meia retorno pra este livro querido, de ritmo envolvente e prosa muito segura.




Histórias de Cronópios e de Famas
Julio Cortázar

É meu livrinho de andar na pasta/mochila, grudado no moleskine. Uma síntese da capacidade inventiva e lírica de Cortázar. O seu insólito é tão envolvente, ainda que repleto de alguns experimentalismos, mas transformado de forma tão generosa em histórias, que é a leitura a qual recorro com maior frequencia. O que mais me atrai na obra de Cortázar, e especialmente aqui, é sua genialidade impossível de não ser notada, mas completamente despretensiosa. Quando Cortázar falava sobre o amor que tinha por escrever, você encontra neste livro o resultado disto. Divertido, comovente, intrincadamente simples. Sua série “Manual de instruções” é incrível. Não à toa um dos contículos desta série, “Instruções para dar corda no relógio”, foi o nome da primeira coluna que assinei nos primórdios da internet.