19 abril 2010

Fuja de garotinhas meigas

A meu favor eu tenho a dizer: quando entrei no cinema para assistir a Caso 39, tudo que sabia é que se tratava de um filme de horror com a Rennèe Zellweger. Não que a perspectiva de ver a comumente estrela de comédias românticas se descabelando aos gritos me fosse das mais atrativas, o fato é que esta foi provavelmente uma das escolhas cinematográficas mais aleatórias da minha vida, aproveitando o simples fato de estar no shopping, próximo ao cinema. Não que eu deva me desculpar por comprovar um mau gosto terrível ao embarcar nesta arapuca em forma de película, o fato é que me sinto um pouco melhor comprovando minha ignorância em relação à obra de que fui vitima.

Finda a choradeira, vamos às impressões. Isto sem perder tempo questionando o que houve com Renèe Zellweger, promissora atriz de Chicago, Diário de Bridget Jones, Cold Moutain (e ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante por este último) entre tantos outros. Fato é que ela resolveu embarcar nesta epopéia de previsibilidade e todo mundo perdeu. Perdi.

A trama: Zellweger é Emily, uma dedicada assistente social que consegue impedir um casal aparentemente muito cruel de matar sua filhinha de dez anos, Lilith (Jodelle Ferland). Pausa para o mais néscio conhecedor de religiosidade sacar que, desde este nome nome pouco óbvio da menininha, já tem coisa. E isto é só um dos itens que destacam um roteiro extremamente tendencioso à descoberta antecipada, com aquela profusão de clichês que incluem sustinhos a toda hora (e quando digo a toda hora é a toda hora MESMO), mesmo que eles não tenham relação alguma com o andamento da trama - e inclua aí batidinhas repentinas no vidro do carro, cachorros furiosos surgindo do nada, pessoas atrás de portas e quetais. Eu sou um cara ingênuo pra caramba, mas não foi preciso muito para sacar que cruéis não eram exatamente os pais da garotinha.

Quem é um tanto mais rápido do que o espectador para se dar conta do mal que assola o coração da superficialmente meiga Lilith, só mesmo a Emily, personagem de uma densidade absurda. Se não, vejamos: experiente em lidar com casos de abusos e maus tratos a crianças (o que, para tal, pressupõe-se uma certa carapaça profissional. Não chamemos de insensibilidade, longe disto, mas o distanciamento necessário para não querer levar pra casa toda criança aparentemente doce e desamparada que lhe cruza o caminho), não demora nada para Emily concluir que o melhor a fazer é adotar a pequena Lilith, o que ela consegue com sucesso após argumentar sobre burocracia e tudo o mais e que o melhor para a criança é ficar com ela, uma especialista em casos como estes.

Então, some a isto todos os clichês possíveis de filmes com garotinhas malignas com cabelos compridos e maldições telefônicas e temos um resumo bastante rico de como Caso 39 é. Adicione Zellweger com sua voz cada vez mais fina em gritinhos histéricos, sustos a dar com pau e vai ficando ainda mais clara a grande obra que me dei ao trabalho de aguentar. Ah, coloque aí também alguns efeitos especiais bem ruins (como marimbondos saindo do ouvido de uma das vítimas de Lilith) e uma das personagens de horror mais influenciável, medrosa e pouco esperta de toda a história (utilizar pequenas trancas na porta do quarto como maneira de se proteger de um demônio que mata por telefone não é exatamente uma das formas mais inteligentes com que uma protagonista deveria se comportar, convenhamos) e, voilà!, eis meu programa de índio de domingo. Que não foi de todo perdido: ao menos serviu para poder encher de piadinhas este texto que nem pra crítica cinematográfica serve.